sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cantar Português IV



que Voz!!

Jordânia

"Boas desde a Dinossaurolândia. Já nos despenhámos sobre Amã. Os velhinhos este ano estão ainda mais idosos e até partilham comigo os problemas de próstata, reumático e falta de memória...para ajudar, um avôzinho entornou-me um balde de café pelas pernas abaixo...isto promete!!!Beijos."

Esta foi a sms tranquilizadora que enviei para casa após o inicio de umas merecidas férias. Infelizmente ou não, não tenho coragem para saciar a curiosidade de visitar certos pontos do globo a solo, por isso repeti este ano a inscrição no grupo da paróquia da terrinha. Depois de São Petersburgo e Moscovo, Jordânia. Novamente, entre os mais novos do grupo por larga margem e rodeado por 19 almas com variadíssimas mazelas. Além das mencionadas acima, passadas algumas jornadas, juntaram-se artroses, entorses várias, diarreias originadas pelas mais variadas causas, paragens de digestão e desidratações. Tão contagiante era a corrente, que até um certo idiota se queixava das feridas nos calcanhares provocadas pelas minhas sandálias novas. Se a isto somarmos, um conjunto de aventuras hilariantes em que se acotovelam o derrube da vedação de um bar do freeshop do aeroporto de Istambul pela mais experiente das turistas, o quase desfalecimento numa casa de banho nojenta de um café após um ataque de diarreia fulminante, uma urinadela urgente por trás de um muro de gabiões de aparecimento milagroso, ou um taxista de dentuça proeminente com a buzina em êxtase por transportar três quinquagenárias pelo centro de Amã em pleno Ramadão, francamente não sei se zombe ou se arquive uma recordação carinhosa. Resumindo, acabei por ver o que queria, retemperei energias, restabeleci ânimos e ainda me diverti bem além do expectável.

Na companhia de um padre com um apetite colossal, de três criaturas que me interrompiam repetidamente a sesta para depositarem as particularidades mais superficiais das suas vidas nos meus ouvidos, da Dona G. que conseguia avaliar a minha paciência em todas as refeições ao repetir pelo menos 17 vezes a mesma pergunta (felizmente as perguntas variavam de dia para dia), da "barda" do grupo que conseguia partilhar as melodias mais improváveis nos momentos mais imprevistos e de outras personagens mais recatadas. Isto sob supervisão atenta de uma guia que teimava em cansar-me a vista ao repetir constantes correrias para satisfazer as necessidades logísticas de cirurgia tão minuciosa. Quase perfeito. Só faltou uma amazona em rota turística que partilhasse comigo os ocasos áridos do deserto e banhos de piscina nocturnos ricos em cloro. De qualquer forma, reaprendi que nos momentos genuínos qualquer companhia é inesperada.

Excluindo peripécias, retive da Jordânia quatro pontos de visita obrigatória: Jerash (e as suas ruínas romanas), Petra (apesar da fama, o final do desfiladeiro é sempre um momento deslumbrante), Wadi Rum (a brutalidade intocável do deserto) e Aqaba (desta não sobram fotos, mas depois de uma semana a idealizar contornos apetecíveis escondidos sob cortinados pretos ambulantes, as vistas gratuitas de bikinis e corpos mais ou menos bronzeados no Mar Vermelho inebriaram o fotógrafo).

P.S. A quarta foto retirada no interior de igreja nas margens do Jordão pode, para certas mentes carregadas de pecado, permitir o vislumbre de heresias abdominais.












quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Voltei

Antes de mais, urge justificar-me a quem quer que desperdice tempo a bater nesta porta. Uma ausência de 54 dias mereceria um regresso comemorativo. Mas a verdade é que fui unicamente comprar tabaco. E entre um cigarro e outro (andava a reduzir para um prego diário), a descoberta que Jacó tinha dopado os restantes inquilinos e detinha o controlo das rédeas da carroça. Irritante, depois de um ano tão sereno, chegar ao Verão e observar cargas de trabalho apreciáveis a despenharem-se sobre a minha secretária. Quando os horários esticam, certos prazeres assumem papeis secundários e outros são mesmo desprezados. E a existência deste blog é unicamente isso, um prazer narcisista de escrever as maiores palermices e de ainda me divertir a relê-las. Para além disso, quando o tempo escasseia, os acordares são abruptos, os adormeceres desejados e o resto do tempo estupidamente desperdiçado (planeia-se em stress e sonha-se com pormenores catastróficos que comprometem o planeamento), sobra muito pouco de interessante para partilhar. E como eu sou de entusiasmos, apaixono-me, vivo até corromper o ultimo segredo por desvendar e canso-me (não que isto marque muitos pontos a meu favor, mas este blog nunca foi uma veículo de autopromoção, antes pelo contrário), falando curto e grosso, caguei nisto. Fui aparecendo para visitar os pontos de interesse memorizados neste blog, porque há sempre alguém com detalhes valiosos para publicar e apanhei boleia da inércia. A vantagem de ter uma desprezível falta de carácter para com as nossas paixões é que um tipo pode sempre alugar o rosto a uma valente cara de pau e regressar como se nada se tivesse passado. É o que se passa aqui. Sem promessas. Sem compromissos. E com a traição a pairar no ar. Voltei.

sábado, 4 de julho de 2009

Cantar Português III



"Que a dependência é uma besta
que dá cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dias de vergonha

Miragem resultante de 48 horas sem pregar olho, por ataques de tosse constantes:

A águia Vitória faz birra e entra em greve, por suspeitar que com a contratação de um Falcão, a sua titularidade está ameaçada. Alguém descobre nos estatutos, que caso a Vitória se indisponibilize a efectuar o seu voo picado, terá de ser o presidente do glorioso a voluntariar-se para essa façanha. Ressalva-se contudo que aquele tem direito a saltar munido de paraquedas, desde que devidamente autorizado pelo Presidente da Diarreia Cerebral. Manuel Vilarinho, náufrago entre 2 garrafões de tinto e o habitual vomitar de disparates, nomeia Bruno Carvalho paraquedas de Luis Filipe Vieira. LFV consegue antecipar a hora do mergulho para um minuto após a nomeação anterior, por forma a impedir que o seu mergulho tenha espectadores. Bruno Carvalho, com uma velocidade assombrosa, ainda consegue chegar a tempo, encavalita-se em LFV e promove o voo picado. Recrutado talhante da zona para cortar as orelhas de LFV, prevenindo o efeito de vela. Despedaça-se o par maravilha com grande pompa, junto dos bifes da Vitória. Advogado próximo de Bruno Carvalho impugna a realização do voo, porque sim. Manuel Vilarinho não delibera porque se acabou o vinho. Jornal "A Bola" confirma: "Espanhóis que querem tomar de assalto o Benfica reivindicam autoria do pseudoatentado" (um aparte, os vários benfiquistas com princípios, que ali escreveram desde sempre, devem estar a rodopiar em espiral nas respectivas campas, ao comprovarem o servilismo degradante em que esse jornal se tornou). António Pedro Vasconcelos consegue prémio internacional para melhor argumento adaptado pelo seu espectáculo de marionetas "Orelhas, Garotos e Providências Cautelares". Lamento, mas não consigo desenrascar um final feliz para uma tragicomédia destas.

Desamparem o espaço, palermas!!! Arrebitem os indicadores na carola e toca de ir mugir para a Assembleia da Republica...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Gripe mesmo suína

Não, não estive de férias. Nem hospitalizado. Nem preso. Este blog carrega apenas alguns problemas existenciais de que vos falarei nos próximos dias (este "próximos" não é temporalmente vinculativo) que têm retardado o avolumar de posts. Para ajudar, ando com umas reincidências gripais de efeitos nefastos. Dirão vocês: "Este flor de estufa manda um espirro depois de almoço, saca uns macacos com molho e acaba-se-lhe o mundo!!! Temos menina!!!" Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas as minhas constipações deixam sempre histórias para contar.

Qualquer infeliz que já tenha sentido os efeitos do síndrome vertiginoso sabe que um gajo, após os episódios de desequilíbrio, parece um tolinho a fiscalizar quem se esconde por detrás da porta ou debaixo da cama. Ou melhor, desconfia de si mesmo e de todas as leis da física e em casos extremos começa mesmo a rezar à Samantha Fox, a deusa do amortecimento de todas as quedas em altura, desde a Antiguidade. No meu caso, como tenho em vigor o meu contrato vitalício de arrendamento com a minha amiga sinusite, consigo acumular uma quantidade invulgar de gosma que me vai habitando as obscuridades subcutâneas do rosto e arredores (nem com a beleza interior me safo). Ora, quando este muco me chega aos ouvidos, temos festa. O chão foge-me dos pés e o resto do mundo, para ajudar, alterna movimentos sísmicos com rotações de cinismo apurado e deixa-me literalmente na merda. Esta semana já se contam duas aventuras. A primeira numa reunião com uma cliente e respectiva decoradora, em que consegui miraculosamente ajoelhar-me numa perna, antes de cair redondo. Com mais ninguém por perto, a alternativa seria apoiar-me nas duas personagens que estavam por perto. Ora, como a visão das mamas da decoradora teimava em encavalitar-se na minha vista e interromper-me teimosamente o raciocínio, eu sabia que ao mínimo sinal de queda, o meu inconsciente ia acabar por trair-me. Por isso toca de ajoelhar, não fosse alguém questionar a veracidade dos papéis da causa e do efeito. Podia ter tentado atirar-me em voo e salivar ligeiramente, mas seria uma representação muito menos nobre. Da segunda vez, teve muito menos impacto. No regresso ao escritório após o almoço, encontrei um posto de transformação de electricidade que não via desde a ida para o mesmo e decidimos abraçar-nos efusivamente. De ambas as vezes, os aplausos não fizeram jus à intensidade da interpretação.

Até aqui, tudo bem, as consequências alheias são mínimas. O problema é o flashback da semana passada. Porque estes fenómenos têm o cuidado de emitir avisos prévios, com alguns dias de antecedência, para um gajo começar a sair de casa mais mal vestido, não vá ter de aterrar em locais menos próprios. Vamos retroceder ainda mais um pouco. Aqui há uns anos, fui aconselhado a fazer fisioterapia específica para este tipo de casos, a qual incrivelmente (eu sou mesmo uma criatura original, caramba), não se aplicava ao meu caso particular. Porque o meu desequilíbrio é de ambos os lados e desaconselha exercícios compensatórios, porque são uma perda de tempo. De ambos os lados e da mioleira também, atrevo-me eu a acrescentar, até porque os meus pais são primos direitos e desde pequenino me avisaram que o meu atraso mental era apenas uma questão de tempo, passe a redundância cronológica (talvez esta passagem não seja totalmente verdade, mas no mínimo eu já sonhei com isto...e sim, os meus pais são mesmo primos direitos). Portanto, ao menos assim, estraga-se só um espécime. Onde é que eu ia? Pois...fisioterapia...num dos exercícios, encorajam um tipo a marchar sem sair do mesmo sitio com os olhos fechados, para lhe poderem mostrar que nos períodos de crise, sem recorrer à visão, "tá fodido de todo". Começamos a marchar virados para Meca e, de repente, somos a personagem principal da Roda da Sorte. Back to the future. Desde que comecei a apanhar umas obras para os lados de Cascais, vou regularmente almoçar a um restaurante de beira de estrada junto à saída da A5 para Bicesse / Manique (estes dados são pessoais, mas eu preciso de compensar o estardalhaço...fica ali no Pau Gordo). Gastronomia alentejana, à imagem do proprietário. Serviço quase familiar. Aliás, a personagem é muito parecida com a minha mãe. Não fisicamente, felizmente para os dois, mas desde que saí de casa dos meus pais (e já lá vão uns quantos anos), nunca mais ninguém me tinha chateado insistentemente de cada vez que deixo comida no prato. Porque é de facto um sacrilégio tal desperdício. Os melhores pezinhos de coentrada que já comi na vida. Umas migas com entrecosto de chorar por mais. Uma puta duma morcela que nos faz sentir um lilliputiano a comer nas terras do Gulliver. Uma sopa de cação que me levava ao altar. Fora os pratos de todos os dias. O cerne disto tudo é que a semana passada, cheguei ao local do repasto aflitinho para verter águas. Depositei os pertences na mesa e fui directo à casinha. Desconheço quais os tiques mais comuns nestes momentos de alívio mais apertados, mas eu tenho tendência para desentorpecer os músculos das pernas e dar uns saltinhos esteticamente ridículos. Hoje em dia, com o louvável economizar de energia e detectores de movimento pouco sensíveis, um gajo, à mínima distracção, está a mijar às escuras. Agora, já não é difícil adivinhar!!! Mau prenúncio os saltinhos transformarem-se em chapinhadelas. Catastrófico, o aceno com a mão que sustenta a rega para tentar activar a luz. Terrível, a confirmação de que estados sobressaltados não casam com pontarias precisas. E um gajo a tentar rodar, agora já às claras, para compensar a rotação anterior exagera no regresso e elimina o último espaço incólume. Tudo mijado. Autoclismo, tampo, porta-rolos e respectivo papel, sanita (interior e exterior), paredes e piso, ninguém se pode queixar de desigualdade de tratamento. E como é que um gajo se safa desta? Pois. O final é demasiado constrangedor para revelar. Mas decidi publicitar a casa para expiar a vergonha. Vale a pena a visita. Se for lá em breve, por higiene e segurança, urine antes de ir (nada mais falso, já lá voltei e estava tudo imaculado).

Vocês, que riem contidamente da desgraça alheia, sorriem superiormente da palhaçada ou desprezam a insignificância do texto, receiem a fertilidade. Ainda podem ter um filho assim. E ele até pode querer partilhar narrativas destas convosco.

domingo, 14 de junho de 2009

Cantar Português II



Enquanto usufruis dos prazeres de uma praia deserta, as ondas entregam-te uma "message in a bottle". Preferes a riqueza da mensagem dentro de uma vasilha artesanal, ou uma missiva superficial dentro de uma garrafa decorativa?...Eu também.

Lobby familiar, precisa-se

Alguém sabe como chegar à fala com a família do LFV? Apesar de sinistro, parece que são eles que detêm a derradeira oportunidade do Benfica conquistar algum título durante o próximo mandato...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eu nem podia mesmo ir de férias nessa semana

Desde o início deste blog, a política foi tema propositadamente escorraçado. Nada de abordar assuntos que fedem. Contudo, este Domingo, vou estragar o fim de semana para um blind date com uma urna. Para não desperdiçar um voto. Mas, sobretudo, porque é de combater o argumento mais popular dos derrotados de domingo à noite. "Os resultados ficaram aquém do esperado, porque esta data era muito propícia à abstenção". E eles vão ser muitos (os derrotados e os que se abstêm). Por tudo isto, vou justificar o meu voto OMO.

Em primeiro lugar, para não ofender a mãe de ninguém, considero todo o politico um grandessíssimo canalha. Acho, aliás, que nas J's, um gajo a quem se vislumbre um mínimo de honestidade e espírito de missão, é imediatamente acompanhado até à porta da saída e agraciado com um valente chuto na peida, para não ter sequer a tentação de voltar. Em segundo lugar, numa altura de crise reclamada por unanimidade, as declarações da nossa campanha a todos os níveis e cores partidárias parecem proferidas por idiotas chapados. Perante o consenso, resta-me concluir que são realmente proferidas por idiotas chapados. E rara é aquela que adianta algo sobre alguma das nossas preocupações. Em terceiro lugar, com a ameaça do desemprego a pairar sobre a cabeça de inúmeras famílias, já depois de ter rachado o crânio de demasiadas outras, é invulgarmente criminoso, certas criaturas presentearem-se com indemnizações, reformas e remunerações chorudas, sobretudo porque baseadas em compadrios e compensações imaculadas, acordadas no exercício de cargos imunes a qualquer suspeita, para não mexerem um cu! Finalmente, e por último (que este post não se quer extenso), porque ninguém tem a coragem de denunciar comprovadamente estas provocações e condenar decentemente estes abutres. Desculpem ter substituído a linguagem excessiva por termos cobardolas. Mas, neste blog, estou em casa e afinal parece que nem me estou a cagar para eventuais melindres.

Poderiam certas mentes sentir-se marginalizadas, porque as justificações concedidas encaixam sobretudo nas ceroulas dos partidos do bloco central. É uma verdade, mas parece-me legítimo desconfiar que, tal sucede simplesmente, porque os outros não conseguiram chegar a posições que lhes permitissem aproveitar tais relíquias. Acedo, por isso, a discriminar a fuga do meu voto a todos os quadrantes, sem chamar os bois pelos nomes, como é tão popular nos dias que correm:

  • Porque estão tão agarradinhos, que parecem Patinhas encerrados no cofre-forte. Com a diferença de que o pato fazia pela vida. E tinha justificações mais criativas.
  • Porque quem tem coragem e sabe estar, não escolhe a líder que escolheram. Foi a assunção de todas as derrotas por vir. Cambada de cobardes facínoras.
  • Porque a preservação de espécies em vias de extinção não é uma incumbência apropriada a todos os cenários.
  • Porque é palermice pensarmos que o rumo deste país pode ter como base um "one man show". Com todas as qualidades artisticas que ele até possa não ter.
  • Porque apesar de terem uma participação activa e trabalharem reconhecidamente mais que os restantes, não lhes reconheço amplitude política para conseguirem marcar posição de forma credível nas várias actividades sócio-económicas.
  • Porque dos figurantes não reza a história.

A emissão desta opinião é da inteira responsabilidade dum individuo que já votou, pelo menos por uma vez, em cada um dos primeiros quatro partidos políticos mencionados acima. Quem quiser que diga quem são. Eu não acuso ninguém, porque todos sabem que eu sei que vocês sabem que nem eu sei. Chamem-me louco, que até posso concordar. Mas, para mim, já não são as ideologias que justificam onde queremos chegar e qual o rumo a tomar. Uma pena, nós as pessoas, não estarmos à altura.

Fica prometido não voltar a este tema até ao final da Superliga do próximo ano.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Madredeus



A nossa essência carrega a herança de um idioma opulento. Ostentamo-la orgulhosos ou assumimos os fantasmas de um passado estéril?

sábado, 30 de maio de 2009

Star Crossed

Quando ouvi falar deste filme, pensei tratar-se de um pacote anedótico que teria apanhado tardiamente. Afinal não. Este filme existe mesmo e recorre a um modelo comum no mundo da pornografia (coitadinha da branca de neve), o cruzamento de um argumento célebre com um cenário presumivelmente apelativo. Tem quase tudo para ser um filme muito mau. Só falta estrear.

Let's look at the trailer...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O corte das 22 orelhas

Eu não disse que ia ser uma jogatana e tanto? Pois disse. Só que eu também me engano. E então quando me agarro a convicções que me parecem seguras, a frequência é gritante. Não foi um grande jogo, foi um espectáculo de tauromaquia sem ferros. Abissal a diferença entre a circulação de bola. Só comparável ao desespero de passar um jogo inteiro a correr atrás dela. Corrida à espanhola, contudo. O único cavalo que por ali passou, andou sempre perdido em esforços isolados e pouco colectivos, como é seu hábito. No fundo, persiste aí a diferença. Quem tem a aptidão de perceber, que a união dos esforços de 11 talentos supera a capacidade de um sobredotado, consegue inevitavelmente chegar mais longe. E repete-se a noção de que o Barcelona, quando em vantagem, impõe o ritmo de jogo de forma soberba e quase parece divertir-se por definir onde, como e quando mata o jogo. Se o esférico pudesse compensar quem o acariciou de forma mais respeitosa, seguramente que o destino da taça seria o mesmo.

Uma figura discreta, e cada vez menos inesperada, emergiu da constelação de estrelas presente em Roma. O jogador de futebol mais inteligente da actualidade: Andrés Iniesta. Um bandarilheiro levado em ombros por toureiros afamados. Sem dúvida, "més que un club". O Barça triunfou.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Venha de lá o primogénito



Esta música escancara qualquer alma...

Não era?

A expressividade dos "não era?", da publicidade da CP aos alfa pendular, atinge um comprimento de onda tal que me desarma os sentidos. Alguém sabe de quem é aquela voz?

Mais do mesmo

A Tektónica é a feira das vaidades da construção em Portugal, onde todas as empresas fornecedoras que querem ganhar notoriedade, adquirem um espaço a custos proibitivos para se promoverem. Repeti a visita desconfiado, já no último dia, se bem que com a agitação do fim de semana, o tema foi ficando pendente. Desconfiado porque, ano após ano, a capacidade de inovar tecnologicamente é invariavelmente subjugada à ostentação de grandes stands, onde se exibem uma repetição de torneirinhas, mosaiquinhos, penicozinhos e mais o diabo que os carregue. Uma feira para arquitectos de interiores, decoradoras e atrelados cheios de tias com as bagageiras repletas de revistas de decoração. Estranhamente, e apesar da crise, continuam presentes todas as espécies do "shire": o pato bravo barrigudo, com a companheira nádegas de abóbora; o comercial noviço, rosto corado e vestuário excessivo; o comercial experiente com o seu penteado rebelde, já grisalho, a disfarçar o olhar pedante e a argumentação técnica insustentada; o perito envergonhado que tenta passar despercebido para sobreviver fora do habitat natural (muitas das vezes recrutado como ilusionista de circo); o estudante assustado (e não é caso para menos); e os visitantes comuns (o que vem para socializar e despejar uns canecos, o que vem para se despachar e ir para casa mais cedo e os que vêm para dizer mal e espreitar gajas, ou seja, eu e mais uns quantos palhaços).

Uma tristeza que, nos tempos que correm, ninguém reme contra a maré. Aquela máxima que a adversidade aguça o engenho, neste caso simplesmente não se aplica. Não há um lampejo de criatividade. Um trolha trovador que cante uns piropos de cima de um andaime (e não era assim tão difícil, andaimes havia muitos e devotos da piroseira também). Ensaios ao corte em mosaicos cerâmicos efectuados com crânios grisalhos (admito que certas peneiras me irritam solenemente). Concursos de design para torneiras a realizar entre os visitantes (aposto que 90 % das obras primas eram piretes). Piscinas com modelos em bikini na bordinha (minto, estas estavam lá). Capacetes de obra em forma de painéis solares/outdoors, que por acumulação de energia exibam fotos de gajas nuas em slide. Betoneiras/sanitas para o desenvolvimento de argamassas de fibras orgânicas recicladas. Tradutores de bolso electrónicos, com conversões múltiplas para os dialectos ucraniano, moldavo, crioulo, brasileiro, palopiano, vernáculo de obra e português. Sistemas de domótica incorporados com interfaces para bimbys, aptos a elaborar refeições sem necessidade de ingredientes (agradeço a ausência específica desta simpatia, senão lá estava eu condenado a servir jantares em casa). Divisórias com barreiras acústicas automatizadas, com activação sonora despoletada por orgasmos sonoros ou ranger de camas. E por aí fora.

Os únicos que salvam a honra do convento são mesmo os espaços da Zon, que se mantêm fieis aos propósitos da surpresa e da inovação. Porque nunca se percebe o que estão lá a fazer. E porque este ano, aquelas meninas embrulhadas em vácuo, deixaram os intelectos de vocação curiosa a salivar em excesso.

É por tudo isto que sinto uma inveja sincera, sempre que vejo os sorrisos dos gigantes da NBA a acompanharem o "I love this game".

terça-feira, 26 de maio de 2009

Porque estão aí a estourar...



AC/DC no estado ainda mais puro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Champions Si o Si"

Como as lides por cá estavam praticamente definidas e o fim de semana estava livre, aceitei um desafio de impulso e fui realizar um sonho de outros tempos. Mochila na bagageira. 500 quilómetros de percurso. Destino: Estádio Ramon Sanchez Pizjuan. Há já algum tempo que o B. me aliciava para espreitar o futebol do país vizinho. Recusei uma e outra vez, pela hora tardia de Domingo. Hesitei perante o interesse de jogos em Huelva e Almeria. Mas Sevilha é diferente. Tem outros encantos. Outras paisagens. E o Sevilla-Depor ao vivo.

Com a chegada em cima da hora, toca de levantar bilhetes, arranjar alojamento e devorar curiosidades. Pelo prazer do futebol jogado a um outro nível. A qualidade de passe. A geometria do futebol. O rigor da táctica. A ausência de simulações. Sobretudo a intensidade do jogo. Tudo um passo à nossa frente. Um campeonato com estádios cheios. Com regionalismos. Com orgulhos genuínos e não repartidos. E praticados num equilíbrio quase geral. Bónus número 1. Homenagem ao capitão Javi Navarro que se retira. Primeiro momento arrepiante. Bónus número 2, com a entrada das equipas em campo. 46000 goelas afinadas gritam a plenos pulmões a melodia que anexo. Garanto-vos que eriçou os pelos do cu ao mais indiferente dos espectadores ali presentes. Um jogo intenso. Um resultado suspenso até ao último minuto. Uma claque como nunca tinha visto, que não se cala e que vale muito mais que um 12º jogador. Se o Nuno Gomes ali jogasse, encarnava o Petit com os dentes ainda mais tortos e umas gengivas capazes de morder o mais inatingível desafio. Bónus número 3. Ida à champions. Fogo de artificio. Uma hora presos no estádio entre milhares de almas a levitar entre cânticos e coreografias. O contágio do calor das gentes da Andaluzia. Fiquei fã. Porra. Fiquei mesmo.

Antes dos outros quinhentos quilómetros, para os entendidos, confirmei que do outro lado do balcão central do Antique, o significado da palavra biberonazos continua repleto de todo o seu esplendor. Apesar de em Liverpool estes atributos serem mais escassos, Anfield está prometido. Não sei para quando. Mas vamos lá.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O anónimo mais exposto do momento


Um gajo não pode deslocar-se por uma via rodoviária em Lisboa, sem dar de caras com esta fronha. Este outdoor tem o mérito raro, dia após dia, de me conduzir instintivamente a perguntas, para as quais não tenho qualquer curiosidade em saber a resposta.

O que é o MMS? Quem é este vulto? Porque lhe fizeram uma estátua de cera? Quanto tempo se aguentará ali? Será que o gajo amanhã solta uma gargalhada? Será que alguém se importa? Será que alguém ainda repara que esta criatura ainda aqui está? Mérito de quem? Mudar o quê e para quê? Morreu-lhe alguém? São estes os efeitos da gripe suína? Ou das aves? Estes tipos não têm outra avestruz noutro outdoor? Porque é que esta velha não se encosta à direita? É esta a personificação da descrença total? O que diria disto a higiene dental da Monica Lewinsky? Quem foi o idiota que marcou eleições para uma semana com três dias de trabalho? Em que praia é que não vou votar? Será que mais alguém se lembrou que esta figura ficava com mais personalidade, se lhe intrometessem o emplastro sobre o ombro direito? Porque é que este sentimento de culpa me consome sempre no final da CRIL? De que clube será este fantasma? Quem comprámos nós hoje? Se por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher, porque é que este coitado só tem direito a uma estrutura de ferro? Ninguém tem coragem de sepultar os caixilhos e laminados? Quem sabe amanhã não aparece uma campanha megalómana de uma marca de lingerie? Quando é que te calas?

Sapatos Vermelhos


Apesar da colagem, esta jovem promete...

Adeus para quando?

Se eu não estivesse em blackout, diria que a presidência de Bettencourt vai criar uma ventania de credibilidade de sentido único na segunda circular (até as orelhas vão servir para vendar olhos).

domingo, 17 de maio de 2009

Sinais da PDI e outros...

Fim de semana pacato e tranquilo para recuperar ânimos, na companhia agradável de casais amigos e respectivos rebentos. Ideias a reter:

  • As francesinhas com o ovo estrelado encavalitado do Amandius, em Santa Maria da Feira são uma experiência pecaminosa única.
  • Noto que as crianças olham para mim com segundas intenções. Ou o peso dos anos me está a surripiar o meu ar ameaçador, ou são elas que se estão a tornar mais destemidas e começam a achar-me habilitado a entrar nas suas brincadeiras. Em todo o caso, ver se da próxima vez consigo trazer uma acompanhante (brincar com putos tira-nos anos de vida).
  • Da próxima vez que tiver de partilhar espaços comuns com petizes logo pela manhã, não esquecer de vir preparado com boiões de urina. Acordar com a tesão do mijo implica dores renais difíceis de olvidar.
  • Não sou pessoa habilitada a opinar sobre o potencial natural da Ria de Aveiro. Ou qualquer outro aspecto da Natureza. Eu sou bicho de urbe e quando me afastam do pulsar das cidades, posso estar em paz, mas perco a lucidez. Por falar nisto, delineei plano alternativo de férias (ainda por ultimar antes de divulgar).
  • Desconfio que Playstation pode ser sinónimo de overdose terminal. Qualquer memória minha a jogar playstation este fim de semana, é pura ficção.
  • Apreciei com inveja uma distinta e numerosa colecção de miniaturas de automóveis e espiolhei um mapa mundi com marcação cuidada de centenas de rádio-amadores espalhados por todos os continentes. Tudo isto nas águas furtadas de um sexagenário. Será que me desvirgaram a 3ª idade? Maldição.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Conversas indigestas

Não sei como são as outras sextas-feiras (excepto a do robinson crusoe), mas as minhas primam pela peculiaridade. Ou gozam de uma boa disposição contagiante (quando aperientes de um fim de semana catita), ou abriguem-se, porque vamos ser sobrevoados por um bando de búfalos voadores incontinentes. A manhã da passada sexta-feira corria lindamente, até me lembrar de fazer este telefonema:

AJF - Muito bom dia. Fala AJF. Posso falar com a D. Xiribitatatá?
Aprendiz de Xiribitatatá - Muito bom dia. Como está? Só um momento, vou chamar.
Xiribitatatá - Bom dia, Sr. AJF. Bem disposto? Posso avançar com o trabalho? Estamos com tudo pronto para começar.
AJF (a marcar desde logo território) - Pode avançar, sim. Mas eu não aceito o acréscimo de preço. Tem de ser pelo preço inicial.
Xiribitatatá - De maneira nenhuma. Não pode ser. Esta amostra está linda de morrer. Gostava que visse. Mas vamos ter muito mais trabalho. Tenho de cobrar mais 5 €/m2, conforme lhe disse. Ou então, entrego-lhe as pedras conforme as amostras que lhe mostrei ontem.
AJF (a recorrer a estratégia de ataque contida) - Desculpe lá, mas as amostras que me mostrou ontem não se apresentam a ninguém. Sinceramente, invejo-lhe a coragem.
Xiribitatatá - Pois. Mas vou ter mais trabalho e não lhe posso manter o preço.
AJF (a esgotar a lucidez) - D. Xiribitatatá, por favor acompanhe-me o raciocínio. Vocês apresentaram duas amostras com dois preços diferentes e dois acabamentos diferentes. O nosso cliente escolheu uma delas e aceitou o preço respectivo. E agora no fim do jogo é que vêm mudar as regras? O cliente não aceita e eu, no lugar dele, também não aceitava. Apenas se pretende que forneçam as pedras com o acabamento proposto, ao preço acordado.
Xiribitatatá - Sr. AJF, o preço é o último que lhe disse. Não posso fazer nada.
AJF (a conter a explosão eminente) - Mas não foram vocês que apresentaram a amostra? Não foram vocês que fizeram o preço?
Xiribitatatá - Não insista. Não posso fazer nada.
AJF (desço duas oitavas, subo uns quantos decibéis) - Vocês sinceramente têm uma lata. Eu sabia que me ia dar mal. Saltam-nos por cima e falam directamente com o cliente. Acordam o preço com ele. Acordam a amostra com ele. Ainda me tentam apanhar na curva, por causa da diferença de acabamentos. Numa altura que todos nós andamos a receber a 30, 60, 90 e às vezes 180 dias, vocês exigem pagamento a pronto. Neste caso, como têm de trabalhar a treta do acabamento da pedra depois de acabada, ainda reclamam, e conseguem, o pagamento antecipado. Agora que têm o dinheiro desse lado, têm o descaramento de ainda vir pedir mais dinheiro, porque não conseguem fazer o trabalho como deve ser? Costumam guardar a ética para ocasiões especiais?
Xiribitatatá - Lamento. Eu não vou perder dinheiro com este trabalho.
AJF (a empenhar-me para não deixar resvalar o nível da conversa) - Pois então guarde as pedras onde mais lhe convier, que eu não quero saber delas para nada. Depois confirmo-lhe como procederemos para devolverem o montante que já receberam, ou se o convertemos no resto do material ainda por entregar.
Xiribitatatá - Eu...não vou...perder dinheiro...com este trabalho.
AJF (a resistir à necessidade de esmurrar o monitor ou arremessar o telefone pela janela entreaberta) - Passe bem.

Desligo a merda do telefone. Respiro fundo e grito a plenos pulmões: "FODA-SE!". Nisto, levanto-me e deparo com os olhares inesperados da F e do J por cima do biombo. "Ficámos à tua espera. Achas que consegues vir almoçar connosco?"

Tudo isto seria superável se, entretanto, o imaculado cliente não se preparasse para aceitar a subida de preço. Amanhã, desconfio que vou ter de almoçar um sapo gigante, cru e provavelmente com as unhas por cortar, que me vai dar cabo da garganta ao engolir.

domingo, 10 de maio de 2009

O efeito surpresa

Depois de um almoço em família, passei pelo "quiosque" do costume para abastecer leitura. Waypoints já memorizados. Tarefa para cinco minutos, no máximo. Mesmo ao lado do primeiro alvo, distraí-me com este "pequeno". Deitei-lhe o olhar com curiosidade mínima e pesquisei duas ou três passagens das primeiras páginas. Saltei uma ou outra página e acabei enleado numa armadilha, em que cada ideia solta só tinha uma saída. A próxima ideia solta. Incrível, como o humor negro e a genuinidade se podem converter numa arma de comoção maciça. Depois dos cinco minutos se repetirem inúmeras vezes e de vasculhar praticamente todo o livro, saí de lá tão desarrumado como se de um episódio invulgar de sexo ocasional se tratasse. Sem verbalização. Sem partilha de identidades. Apenas um mergulho na intimidade. Algum tempo depois, voltei embaraçado ao local do crime, para recolher os livros que tinha na minha lista de compras. Conforme transcrição do Le Monde: "Não se deve contar este livro. Nunca será tão bom como lê-lo". Limitei-me a comprová-lo.

Duetos mórbidos


sábado, 9 de maio de 2009

Uma vergonha...Vocês são uma vergonha...

  • Antes que eu me irrite, alguém explique por obséquio àquele bando de trolhas equipados de vermelho, que para ganhar jogos é preciso correr mais que os adversários (e que para ganhar títulos, esta premissa tem de se repetir todas as semanas).
  • Antes que eu me passe dos carretos, alguém explique por piedade àqueles pobres miseráveis emproados, que nas bolas paradas quem leva a melhor é quem está mais concentrado e tem mais querer.
  • Antes que eu perca as estribeiras, alguém explique por especial favor ao Quique, que para mexer mal, mais vale estar quieto e que a equipa, por lógica, renderá mais se os jogadores actuarem nas respectivas posições.
  • Antes que eu me desnorteie, alguém explique encarecidamente ao Di Maria, que apesar de ser um gajo rápido e habilidoso, quando a condição física lhe falta não acerta uma, porque o cérebro de um quadrúpede de pouco vale a um profissional de futebol (e que para fazer aquelas figuras quando é substituído, a ama seca bem que lhe podia rebentar o acne juvenil com umas valentes jardas na fronha).
  • Antes que o meu raciocínio se despiste, alguém explique por caridade ao Balboa, que a pusilanimidade injustificada deveria conceder justa causa para incumprimento salarial.
  • Antes que eu perca a cabeça, alguém explique por cortesia a quem quer que seja que escolhe o plantel, que uma equipa ambiciosa se constrói com jogadores que ainda não ganharam nada e não com vedetas que pariram incapazes.
  • Antes que me salte a tampa, alguém explique ao Orelhas, como quem explica a um atrasado mental, que quem ganhou aquele título longínquo foi o Veiga e que já chega de estragar.
  • Antes que a mostarda me estoire com a penca, alguém ponha ordem naquela merda!!!
  • Antes que este blog perca a pouca credibilidade que lhe resta, vou entrar em blackout...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Meant to be together

Por orientação marcadamente realista, quando vou ver um filme, aprecio por preferência argumentos com finais inesperados e arrasadores. Porque o humor negro é o mais desconcertante (logo o mais encantador). Porque ansiamos pela capacidade de ainda nos conseguirem surpreender. Porque são, indiscutivelmente, os mais credíveis. No fundo, as nossas vidas estão também condenadas a um epílogo infeliz, a morte, e mesmo depois disso (a ideia de um gajo estar fechado num caixão, pálido, a cheirar mal, sozinho, sem net nem televisão, pode ser tudo menos agradável) só podem piorar.

Há pouco, com o jogo de Stamford Birdge a acabar, parecia-me estar a assistir a um bom filme. A ideia da final da Champions não ser um Barça - Man Utd (o jogo mais espectacular que se pode esperar nos dias que correm) era um desígnio digno do maior murro no estômago. Como se o príncipe encantado conseguisse eliminar todas as bruxas, demónios, dragões e Tommy Ovrebos que lhe aparecessem, para ficar com a Bela adormecida e, mesmo antes do final, descobrir que ela ressonava ruidosamente e era afinal um travesti peludo.

O salto que dei com aquele truque do destino que o Iniesta aplicou ao Chelsea, fez-me sentir uma donzela a suspirar com o desfecho em tons de rosa duma qualquer comédia romântica. Quero acreditar que este entusiasmo não é um fenómeno de despatriação (vou registar patente desta), mas apenas um flirt passageiro, originado pela falta de apetite sexual recente do meu amor de sempre (Recente é um eufemismo. O Benfica estar frígido é outro. A ideia de nos estar a encornar seria poética, mas infelizmente idiota.).
Em todo o caso, a imagem daquele puto a chorar vai correr mundo. Convém que alguém lhe conte uma história diferente antes de dormir. Por exemplo, que a final de Roma vai ser um dos maiores desafios dos últimos anos (espero não me enganar). Ou, em último caso, que os melhores filmes são os que têm os piores finais.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Saber que existem por aí mundos perdidos por descobrir é, por si só, uma tentação



Para quem quer se soltar
Invento cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de encontrar

Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir
Eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir

Invento o cais
E sei a vez de me lançar

Um Senhor

Hollywood já conseguiu estrelar um presidente dos Estados Unidos, um governador da Califórnia e sabe-se lá que mais, com ovos de qualidade duvidosa. Mas o seu grande "mérito" é conseguir que Clint Eastwood, apesar da sua longa carreira de actor, não tenha adulterado o seu requintado bom gosto e continue a partilhá-lo connosco.

Acabei por conseguir ver o Gran Torino já a destempo, com o prejuízo de muitas opiniões favoráveis e expectativas elevadas, que é meio caminho para ficar desiludido. Pois não fiquei.

domingo, 3 de maio de 2009

Assim, a crise em Portugal não desaparece...

Noticia de última hora. David Luís garante a titularidade para o resto da época, com a condição de jogar de muletas para não prejudicar os automatismos de toda a equipa. Quando profissionais de futebol participam num jogo como se estivessem a passear num campo de golf, a culpa não pode ser só do treinador. Mesmo quando este tem o hábito de pintar os olhos.

Para não ser só dizer mal, deixo uma sugestão construtiva. Um mês de vencimentos do plantel principal do Benfica dá para pagar a grande maioria dos salários em atraso de toda a Superliga.



Descobri esta voz por uma sobreposição de coincidências recentes, mas com a frequência a que não consigo deixar de a ouvir, corro sérios riscos de me enjoar...

Uma escolha bem menos traumática

Hoje acordei com um sorriso nos lábios. Sonhei que a Scarlett Johansson me andava a passear num carrinho de bebé, no Madison Square Garden. Assistimos a um jogo dos Knicks. O Bill Murray fez-me cócegas na pancinha. O Pat Ewing tirou-me a chucha e só não levou uma regadela na testa, porque afinal eu estava de fraldas e acabei mesmo foi por ficar todo encharcado. Descobri que o Woody Allen não sabe construir piadas para crianças, desatei num pranto quando o McEnroe teve a ousadia de me pegar ao colo, mas adorei o colo almofadado da Mariah Carey. Jogo terminado (deve ter sido das poucas vezes em que um resultado me passou despercebido, mas estava em hipnose total com aquelas chupetas) e fui ver as montras com a minha yummy mummy. Consegui entornar uns frascos de perfume, agarrei-me a um bonsai a ver se ele podia vir brincar connosco e puxei as orelhas a um Labrador Retriever com uma paciência de santo. Para mal dos meus pecados, acabámos numa joalharia de volta dumas pulseiras, a que francamente não achei piada nenhuma na altura. Descobri que no carrinho transportava um porta-moedas bem carregadinho que julguei ser o meu pé de meia (ser filho de famosos deve dar uns bons rendimentos), quando a minha mãe de ocasião mo tirou para pagar. Ouvi a mamã a indagar preços entre prata e ouro (um pouco estranho, mas como me parecia que afinal era eu que pagava, achei apropriado que ela escolhesse a peça em prata). Chorei até arroxear, quando vi que a sacola das moedas ia ficar praticamente vazia, a ver se conseguia uma devolução atempada, mas acabei desarmado quando ouvi "Vá, chegou a hora do meu menino mamar." Caramba, tentei esfregar as mãos de júbilo mas para um bebé é difícil. O máximo que consegui foi esbugalhar os olhos, esbracejar e espernear vigorosamente e babar-me de excitação até me conseguir engasgar. Quando finalmente chegou a hora de meter os beiços nas minhas mamas de aluguer, toca o raio do despertador e arrebita caminho para o IKEA. Apesar de ter ficado a um danoninho de distância, há acordares muito piores.

P.S. Mãezinha, a prenda está escolhida mas podes trocar. Apesar da narração exaltada, o único artigo insubstituível és mesmo tu.

sábado, 2 de maio de 2009

Peregrinação

Eu, que consegui mobilar toda a minha cabana sem me converter à tentação IKEA (seguir modas atrofia-me o ânimo), hoje, mal saltei das palhinhas onde estava deitado, dirigi-me sem demora (para evitar atropelos, que é a maior das minhas alergias) à catedral religiosa mais frequentada da capital e arredores. Tudo, porque uma criatura iluminada se lembrou que queria construir um roupeiro com umas linhas limpas e modernas, semelhante a um que descobriu no IKEA. Deixei o profissional convencer o preguiçoso e acabei por sair de lá muito mais bem disposto do que entrei. Por isto:

  • Primeiro, apesar do magote de gente ser incrivelmente numeroso (e eu a pensar, que àquelas horas da madrugada, ia chegar lá antes do resto do mundo), os suecos são de facto muito metódicos e depois de conseguir livrar-me da viatura de transporte, acabei por fazer o meu percurso tranquilamente, vi o que tinha a ver, comprei o que descobri que afinal precisava de comprar, e nem stressei em excesso.
  • Segundo, até se encontram umas macacadas úteis e em conta, que até precisávamos, mas cuja necessidade não era assim tão premente que nos obrigasse a levantar o cu do sofá para as comprar. Resumindo, equilibrei a quantidade de louça para rentabilizar a lavagem semanal da máquina e não precisar de andar a revezar louça já usada, mas não suficientemente suja.
  • Terceiro, embora tenha seguido religiosamente as setas que me iam aparecendo, devo ter falhado a praça onde o sacerdote máximo aparece à janela para saudar o rancho de peregrinos e, com isso, poupado imenso tempo e doses enormes de mau feitio. Só por isto, logo depois de pagar, rezei uma avé-maria enquanto me dirigia de volta ao carro. Incrível, como muitas das vezes não me lembro onde estacionei o carro (esta inclusive), mas consigo recordar uma cantilena que não rezava há vinte anos.
  • Quarto, e este é fundamental para todos nós que vivemos, dormimos, sonhamos e acordamos a respirar futebol. Nós, os fanáticos da bola. Afinal, não estamos sozinhos. Existem outros cultos completamente estúpidos que fazem mexer este país. Ainda bem.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

The Black Album



Quem foi o amigo da onça que não me devolveu o preto?

A.V.J.A.

Como qualquer espécime masculino que se preze, considero-me um perseguidor de objectivos singulares bem definidos. Nada de acumular tarefas simultâneas. As misturas corrompem-nos. A mínima dispersão é uma justificação plausível para um sucesso menos conseguido. Enquanto ressaco, tento discriminar o consumo ávido de livros ao desafio que vem de longe. Enid Blyton à desgarrada, alternando Cinco e Sete. Uma Aventura degrau a degrau. Hercule Poirot, Miss Marple, o casal T (Tommy e Tuppence) e o Inspector Battle, num compromisso monogâmico com Agatha Christie. O deslumbramento da descoberta do Eça. O longo hiato nas memórias, eventualmente justificado pela porfia de outras vivências, intercalada com uma ou outra curiosidade regressiva. O regresso do papa-livros às bases, com a descoberta dos mundos fantásticos. A fase do Tolkien. As semanas sem pregar olho das trilogias de Juliet Marillier. Anne Bishop e as suas teias. O início do registo pseudo-histórico-religioso. Dan Brown e a clonagem exaustiva do modelo. A vampiragem de Lukyanenko. A fadiga. Reiniciar bússola.
Hoje, preciso de comprar um livro com urgência. Ele é Superpower. Astro. Travian. Football Manager. Hockey Arena. Pro Cycling Manager. Charazay Basketball Manager. Fantasy na Premier League, Champions League e UEFA cup. Manager Zone. Devoro tudo o que seja estratégia online. Nos tempos mortos, recorro a mezinhas caseiras. Desintoxicação imediata precisa-se. É isso. Amanhã, logo pela manhã, estou à porta da Fnac do Colombo.

Se não resultar, recorro ao desespero dos classificados. "Procura-se agricultora humilde para actividades lúdicas de intimidade avançada de carácter temporário. Seios volumosos e ancas de contornos bem torneados são atributos valorizáveis, mas não indispensáveis. A posse de quaisquer conhecimentos informáticos exclui automaticamente eventuais candidatas."

Enquanto não amanhece, vou tomar só mais uma dose...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Homónimos desavindos

Com a gripe "mexicana" a contaminar mediaticamente toda a actualidade, os meus olhos detiveram-se numa daquelas noticias que verdadeiramente afecta a natureza humana. Gostava de saber a reacção dos VL's e JNPC's. Riram com gosto? Babaram-se? Ou alguém por perto acendeu um cigarro para denunciar uma tempestade de ventanias aromáticas?

Agora, muito a sério...Eu acho que todos os clubes deviam ter, à frente dos seus destinos, um suíno comprovadamente engripado, senão o futebol português nunca deixará de ser nem justo, nem deprimente.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ofereço-me


No nosso mundo, este mundo é outro. Arrepiantes até na excepção...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Atropelo na passadeira

Estes fins de tarde a escorregar para o Verão desembaraçam-me emocionalmente. No regresso a casa, detive-me numa passadeira subjugada ao poder de uma parelha invulgar. Um chavaleco para aí com uns 13 anos atravessava-a de mão dada com uma pequenita duns 7. Ele com o peito inchado de protecção. Ela com o caminhar tranquilo daquele amparo. As mochilas a condizer. Chegados à outra margem, ele pousa-lhe as mãos no ombro com sensibilidade de ourives e "força" a inversão de mãos para lhe dar o lugar do passeio mais afastado da estrada. Os meus pitosgas ficaram embevecidos a contemplar o cenário. Tão embevecidos que nem dei pelos 10 mânfios que se acotovelavam impacientes na minha traseira. Despertei com as buzinas. Desconfio que o gel para as gengivas me anda a menstruar o cérebro...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Já passou...

Se há momento que me arrebata de entusiasmo, ele é a entrada no consultório do dentista. Depois de uma dormência que suspeito ser de origem hipocondríaca, acabei por escolher o caminho da penitência. Boca aberta. Tubo estranho a expelir seja lá o que for. Maxilares com encaixe no ponto de equilíbrio limite. Pilha de nervos. "Espectáculo. Reparem na categoria destes dentes!" Espionagem a 6 olhos. "Pois é, caro amigo. Tens uns dentes espectaculares. As gengivas é que são uma merda. Temos de tratar disto." Não gostei desta última parte. As gengivas até podem estar num estado lastimável, mas será que não podemos tratar disso quando voltar cá na próxima década? Para atenuar o carácter bélico que a minha mente assume por instinto, comecei a simular percussões com as pontas dos dedos nos apoios da cadeira (um dentista tratar um cliente com as mãos soltas é definitivamente um acto de coragem) e concentro-me nas minhas antíteses. Dentes magníficos, gengivas de merda. Olfacto apurado, mas o septo nasal mais torto que as costas de um corcunda. Olhos lindos de morrer (esta é só para enfatizar), mas ao longe não vêm um carilho. Audição perfeita, mas um desequilíbrio tão grande no ouvido interno (síndrome vertiginoso para quem gosta de chamar as coisas pelos nomes) que nos dias piores a terra não é quadrada nem redonda, é a centrifugação numa máquina de lavar roupa. Sovaqueira selvaticamente densa, mas que aparece como destino de luxo nos melhores guias turísticos para piolhos (não sei de onde surgiu esta, mas na cadeira do dentista não convém um gajo interromper raciocínios). Umas unhas dos dedos dos pés com um desenho de excelência, mas que ao mínimo descuido decidem crescer carne adentro. Grandes tomates, mas de dimensão testicular diferente (nada de perguntas, se faz favor) e provavelmente o peso também (não dá para conferir esta individualmente, eles recusam-se a estar longe um do outro). Cingindo-nos a índices de valentia, esta última não podia ser mais falsa. Consigo ser mais cobarde do que qualquer um que me desafie. Uma no cravo e outra na ferradura. "Terminámos. Levas este gel para massajar as gengivas depois de cada lavagem dos dentes." Cuidadosamente voltei a reencaixar tudo no sítio. Aperto de mão. "Daqui a 5 anos, volto a passar por cá. Vou indo. Prazer em vê-lo." (Pelas costas!!)

Até o alivio de sair dali para fora contrasta com o suplicio das massagens bidiárias. Especialmente quando os dedos atingem as extremidades da boca e tocam as membranas inferiores da língua. Já aprendi a não o fazer depois do pequeno almoço. Consegue ser tão eficaz como colocar os dedos na garganta antes de deitar o corpo alcoolizado.

Deus é perfeito. Deus criou o homem à sua imagem. Regozijo-me com mais este contraste. Eu prefiro acreditar que o homem se viu forçado a criar Deus. E, logo a seguir, cagou satisfeito no assunto e deixou-o sem imagem e tudo. Afago a calvície que me poupa o pentear matinal e inspiro demoradamente para exagerar a proeminência duma barriga de anos acumulados de tratamento privilegiado. Vou-me deitar.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A Música Hospedeiro



A imagem parasita convertida em refém...

Tropeçar no passado

Em tempos já muito distantes, era eu pouco mais que uma criança cativa de regras rígidas (um ralhete do papá urso impunha mais respeito do que muitos dos tabefes que não se vêem nos dias de hoje) e consegui orgulhosamente negociar duas idas tardias para a cama por semana (excepção feita aos jogos do benfica que eram inegociáveis). Uma consumida pelo "Domingo Desportivo" da altura, a outra por esta preciosidade:



Mas que raio via eu nisto?!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dilemas urinários

Dias atrás, acabei a jantar num italiano perto da Trindade, com um grupo de amigos bissexual (o grupo, os amigos acho que não). Depois de abandonar os agasalhos no lugar escolhido, procuro a casa de banho para a costumeira urinadela rápida pré-janta (muito útil para disponibilizar espaço para uma rega avantajada). "WC" escarrapachado na porta, não há que enganar. Fase seguinte. Deparo-me com um corredor comprido, lavatório ao fundo, 2 portas, uma alemã a vociferar escarradelas de boca cheia ao telemóvel. Peço licença para passar, em português imperceptível, e preparo-me para escolher o meu confessionário do alívio. Numa porta, uma seta que bem podia ser uma cruz, na outra uma cruz que podia ser qualquer coisa. Que gaita. Em primeiro lugar, eu na altura nem estava convicto da correspondência de cada símbolo (naturalmente que entretanto já fui averiguar), no último, mesmo que estivesse, não ajudava muito. Espreitei para ver a reacção da donzela, mas ela continuava a devorar favas em voz alta e não me ligava nenhuma. Como o meu alemão se resume a contar até 9 (fruto do acompanhamento de muitas partidas de ténis e da minha curiosidade insaciável, que me fez ultrapassar o oito e parar logo a seguir no 9), deutschland, mannschaft, beckenbauer e rummenigge, desisti de pedir ajuda. Poderia dar-me um certo jeito saber rematar um "mijaste onde?" teutónico, mas desconfio que ela apenas ali estava para a conversa ter uma banda sonora rica em autoclismos. Adiante. Num acesso de lucidez, lembrei-me de ver o estado de asseio das nautilius, mas serviu-me de pouco. Ou a alemã tinha um mijar excêntrico, ou outra extravagante se lhe antecipou, ou esta era uma dúvida com que muito homem já se tinha deparado. Senti-me desde logo, mais tranquilo. Lembrei-me entretanto da imagem que se arrastava com a autora do blog "Pequenas Decisões" (um blog em tons de rosa que visito ocasionalmente quando estou bem disposto (apenas porque quando estou mal disposto, ando demasiado cenhoso para poder fazer qualquer tipo de visitas (a não ser de carácter higiénico, o que nos faz regressar ao tema original))), o que me fez decidir pela imagem que mais se assemelhava a uma seta. Fiz o serviço. Lavei as mãozinhas salpicadas. Tive pena de não estar num estado de aflição tal, que me tivesse permitido adicionar gratuitamente ao meu alemão vocábulos obscenos. Prova superada. Regressei ao meu lugar. Guardei o tema para o final do jantar. Dados estatísticos: 67 % dos inquiridos foi à casa de banho, 20 % não teve vontade; 75 % dos que precisavam de escoar acertaram na casa de banho (2 setas e uma cruz), 25 % (uma cruz) ainda tentava não respirar na viagem de táxi para casa.

Círculo com flecha apontada para cima (tinha ajudado se o sentido fosse ascendente) - símbolo de Marte, deus romano da guerra, representa a masculinidade.
Círculo com cruz - símbolo da deusa da beleza e do amor, representa o espelho de Afrodite e a feminilidade.

P.S. Superada a ignorância, o jantar em si foi excelente.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Paco de Lucia


Recordar noites quentes nas margens do Guadalquivir.

Reaprender

Ontem, como prefácio de um desejo de boa Páscoa, colaram-me os adjectivos de arrogante, patife e depreciador daqueles que colaboram comigo. Ainda por cima, de uma forma educada e respeitosa, o que me deixou fora de mim. Ando a tentar empurrar uma obra para a frente, sem me facultarem quaisquer elementos de trabalho, sejam eles pormenores, esquiços ou perspectivas elucidativas. "Quero que o aspecto final seja este." E um tipo que se desenrasque. O tempo não é folgado e acabo por carregar o projecto na cabeça, à boa portuguesa. Tudo a mim. Eu esclareço as dúvidas. E a dedicação devolve-me em troca um agradecimento destes. Mas porventura ainda acham que têm razão? Acham. E provavelmente têm.

O Sr. P. tem no mínimo mais 40 anos que eu e não precisa de pensar no que tem de fazer, simplesmente faz o que a experiência de uma vida de trabalho lhe ensinou, o que em termos técnicos praticamente lhe elimina o risco de cometer erros. Trabalha não por obrigação de sobrevivência, mas pela necessidade de ser útil. E respeita as hierarquias como ninguém. Protege aqueles que lidera, com a ambiguidade de tratamentos a que isso obriga e colabora com os seus "chefes" (neste caso aqui o patife) de uma forma dedicada. Ora quando o "chefe" se lembra de lhe passar por cima e começa a dar indicações a toda a gente, sente-se naturalmente desautorizado. Naturalmente. Quando deixamos que nos passem por cima, mais cedo ou mais tarde, a ponte sofre um alargamento para dois sentidos. E o que me enfurece mais, é que eu sei disso perfeitamente.

Fazer o quê? Quando temos alguém que chega ao trabalho meia hora antes de tempo e é o último a fechar a loja, e vive as horas de trabalho com um empenho como se não houvesse amanhã, ou qualquer outro lugar onde pudesse estar. Nos dias que correm, em que a crise justifica a desmotivação de tudo e todos, um emprego é uma preciosidade e o trabalho uma necessidade incómoda e a tolerância de ponto é a prenda ou a pedra no sapato de toda a gente, isto é um bem maior.

Não sei se vou repetir o erro, mas a minha consciência assumiu a mea culpa e delineámos novas estratégias de procedimento. Vamos tentar levar isto para a frente, Sr. P.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Més que un club

Pode-se dizer que para uma disputa ser muito desequilibrada, tudo tem de correr muito mal a uma das partes e muito bem à outra. E, aqui para nós, ninguém mais do que o Bayern merecia este pesadelo. Mas verdadeiramente, aquele Barcelona é um assombro. Aparte a pressão que exerce no campo todo quando não tem a bola, o que impressiona nestes catalães é o que conseguem fazer quando a têm, consolidando a sua estratégia na multiplicidade de escolhas nos vários momentos. Quando detêm a posse de bola, o jogador em questão nunca tem só uma opção, e quando toma a sua decisão, toda a equipa evolui e propaga a criação das escolhas seguintes, valorizando cada individualidade e deixando o adversário num estado de desorientação quase total. Presumo que isto exija cargas de trabalho táctico colossais às nobrezas presentes (e a renúncia de muitas tolerâncias de ponto).

A partir daí tudo é fácil, quando se tem a mestria de Xavi, o cinismo do mínimo esforço de Iniesta, a magia de Messi, o pêndulo compensador de Touré, a diversidade das movimentações de Henry e Eto'o, os desequilíbrios de Daniel Alves, enquanto cá atrás, não fosse o estilo "Rotweiller" de Puyol, e Piqué e Marquez bem podiam ser a linha mais atrasada duma equipa de matraquilhos. Absoluto e total. Fiquei rendido.

Clubismos à parte, o Porto ontem foi enorme. Uma equipa solidária eclipsa quaisquer nomes. Que sirva de lição de humildade a outros.
Teorizar sobre futebol!!! Onze contra onze e uma bola redonda. Ainda bem que nunca ninguém vai chegar a ler isto...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Adepto sofre

Os jogos do Glorioso estão a tornar-se tão enfadonhos, que a pergunta que se exige é:
- Alguém sabe a que minutos são os penalties do jogo com a Académica?

domingo, 5 de abril de 2009

Trapalhada

Um louco não pode deixar de "sorrir", quando contempla uma criança aborígene a estender uma das melodias do Feiticeiro de Oz numa gaita, "acompanhada" por um coro de outras crianças de raças desordenadas, num barco que emerge de destroços de guerra.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Brutalidade



s. f.
1. Qualidade de brutal.
2. Acção própria de bruto.
3. Assistir ao vivo, em Óbidos, ao Tango "Passion", de Rodrigo Leão.

Na falta de sentido de humor...

Por incapacidade inata, não sou capaz de assistir a reality shows. Novelas da TVI. Revistas cor de rosa. E todo o tipo de atentados à inteligência, que recorram à submissão ao ridículo para promoção de uma estupidez maior. Mesmo nos filmes, no momento em que a personagem vai ser desprezada ou expor-se à zombaria alheia, instintivamente mudo de canal. Não sei se tem a ver com a minha própria dificuldade em lidar com a rejeição, ou do transtorno que me causa ter pena de alguém.

Dou comigo a pensar nisto (o meu cérebro consegue ser profundamente ignóbil), uma semana após o meu avô se ter estatelado em casa. Não se lembra de nada. Alguém registou que doou uma quantidade significativa de sangue ao piso da sala (fruto de uma forte pancada na cabeça na queda). Recuperou a consciência, chamou sozinho o 112, desceu à entrada do prédio e aguardou pela ambulância. Não consegui deixar de me sentir orgulhoso. Com 91 anos em cima, é obra! Não que tenha a sua postura de vida como modelo a seguir, apesar de admitir o muito que alcançou, escalando a pulso. De qualquer forma, continuo a adiar sucessivamente a visita, cada vez mais tardia. "O avô está muito apático. Fala pouco e já nem te enfrenta com o olhar." Estou entalado entre a recordação da morte lenta da minha avó, contudo rápida demais para a visita que não fiz e a pena que não quero sentir por quem sei que não a merece (e orgulhosamente não a quer merecer).

Se isto desaparecer é porque mudei de canal. Redundei e tive pena de mim.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Não valia a pena pensar nisto

Imaginemos que por um feliz (ou infeliz) acaso, nós conseguimos reunir 11 mulheres e nem sequer somos muçulmanos. Imaginemos que são giras. Imaginemos que são boas. Imaginemos que por um acaso ainda mais feliz (ou catastrófico), elas são umas companheiras prendadas e pouco ciumentas, mantêm-nos a casa num mimo e satisfazem o nosso ego a todos os níveis. Nós, para não as deixarmos agonizar em ócio, nomeamos uma governanta, a qual distribui as tarefas e assegura o cumprimento das mesmas na nossa ausência (e em qualquer outra altura). Há quem lave a roupa, passe a ferro, cozinhe e por aí fora (não deve ser difícil encontrar onze tarefas diferentes, para quem sabe manter um lar com níveis de higiene aceitáveis, o que não é propriamente o meu caso). Imaginemos que nós temos uma preferida. Depravados como somos, óbvio que escolhemos a mais fogosa na cama. Aquela que nos realiza as fantasias mais badalhocas. Aquela que preferimos exibir na rua. Aquela que é tão boa, que toda a nossa rua sofre de um torcicolo recorrente. Agora imaginemos que num momento infeliz (indubitavelmente), nós concedemos à nossa cabeça acéfala o poder de decisão e por uma estupidez absoluta, nomeamos a nossa boazona de governanta e deixamos a mais sensata entregue à tábua de passar a ferro. Imaginemos que comemos com as consequências. As outras começam a não achar piada (além de ser a "preferida", ainda caga sentenças). Depois, a gaja é podre de boa, sabe que é podre de boa, vangloria-se de ser podre de boa e não sente necessidade de primar pela eficácia. As outras deixam-na entregue a ela própria, instalando-se a desarmonia. A gaja começa a ficar irritadiça e já nem na cama manda umas burlaitadas como deve ser. Nós começamos a ficar genuinamente fodidos (não percebemos nada da manutenção de um lar, mas já nos tínhamos habituado aos luxos). Moral da história?

"Quem é que foi o iluminado que nomeou o Ronaldo capitão da selecção?"

quinta-feira, 26 de março de 2009

Brothers in Arms


Os tempos subalternizam as modas, mas certos sons sobrevivem-nos. Este homem é um monstro...

Ando preocupado com os padrões de sociabilidade elevados da minha vizinhança.

Resumindo, desde que concluí as obras na minha barraca, ando a comer em casa dos vizinhos mais próximos, à média de duas vezes por semana. Já tentei iniciar um processo de negação, mas a fraqueza de espírito aliada a esta mândria inata que, salvo raras excepções, é mais forte que eu, acaba por me fazer sempre aterrar, sem grandes dificuldades no trajecto, nas mesas daquelas almas caridosas. Para não me sentir tão mal comigo mesmo, comecei a edificar lá em casa uma garrafeira de gosto requintado (pelo menos eu gosto das vinhaças que, por egoísmo, são condenadas a consumo próprio) para tentar não aparecer de mãos a abanar.

O desconforto, no meio de toda esta perfeição, é que começo a sentir-me cercado por uma rotatividade a que me vou esquivando. Tento refugiar-me na estratégia de ir sempre oferecendo a outra face, ou neste caso a mesma boca, mas acredito que as paciências bíblicas lá do prédio vão acabar por esgotar-se. Como tal, tenho tirado proveito de alguns argumentos criativos para ir desarmando tímidas ofensivas, que aproveito para partilhar. Se algum de vocês, por um infeliz acaso, se desviar do seu percurso e teimar em ler este texto, sinta-se convidado a acrescentar qualquer sugestão que lhe pareça apropriada.

  • Sou um péssimo cozinheiro. Sei grelhar bifes (mas não tenho a mínima sensatez culinária, até porque gosto da carne praticamente crua) e encaminhar as pizzas do congelador para o forno e deste para a boca. Mais do que isto, é audácia de resultado imprevísivel e no meu dicionário aventura e cozinha aparecem em páginas muito distantes. Diria mesmo, que o facto de amealhar comida em casa pode, sem grande dificuldade, ser considerado um atentado à saúde pública.
  • Noutros tempos, a simples ideia de se fazer um jantar chez moi, seria desde logo adjectivada de inconcretizável. A inadequabilidade do cenário era imediata. O meu mobiliário resumia-se a uma bancada de cozinha com lava-louça incorporado, um frigorífico, um micro ondas, uma poltrona, a mesa redonda à medida para o portátil e respectivos adereços, uma cadeira, a televisão que conseguia codificar a imagem dos canais de sinal aberto mas tinha um som fantástico (se bem que não regulável), um banquinho que servia apenas para descansar o dito enquanto cortava as unhas dos pés (o estado do bidé já era duvidoso) e um colchão (este estava parcialmente assombrado, desde que uma amiga arco-íris quase ficou electrocutada na tomada fora de validade, que devia estar escondida pela mesa de cabeceira que já não estava lá). Agora é tudo novo. E pior, está tão candidamente asseado que me parece pecaminoso desenvolver actividades num plural tão extenso.
  • Tenho o meu próprio conceito de arrumação. Não quero, por isso, ser responsável pelos danos morais resultantes do aparecimento fortuito de umas cuecas por passar na gaveta do faqueiro, duma caixa de imodium esquecida dentro duma frigideira ou do piaçaba se ajustar à medida, no lugar vago entre a Quinta do Cabriz e a Quinta do Cerrado.
  • Os bebés e as crianças em geral são criaturas adoráveis (pelo menos, os poucos com quem simpatizo). Por outro lado, os meus tarecos, quando são muito novos ou demasiado velhos (neste momento, não sobram outros) carregam um valor estimativo apreciável. Contudo, a ideia de ambos partilharem o mesmo espaço afigura-se-me inconcebível. Lamento. Sinceramente.
  • Grande parte da população mundial, ou sofre de prisão de ventre, ou possui uma frequência intestinal diária apreciável. Eu, como ser quase humano e dissemelhante, consigo repetir três defecadelas por dia (em dias de maior ansiedade, que não são raros, ainda tenho necessidade de recorrer a uma quarta cagada), dispostas cuidadosamente ao acordar e após o almoço e o jantar. Não me resta portanto outra opção, senão agradecer encarecidamente que poupem a minha porta da retrete ao papel de anfitrião, enquanto alargo a minha colecção de croquetes enformados, após o repasto. Este argumento também atesta a inegável qualidade dos alimentos que tenho por casa. (Recorrer a esta matéria só em caso de desespero, por razões óbvias)


Como não confio totalmente na credibilidade desta exposição, nem tão pouco na minha eloquência ao defendê-la, qualquer ajuda será largamente apreciada.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Alguns dias depois...

O jogo foi Domingo e já hoje é quarta, mas há feridas que demoram a sarar. E eu também sei que tenho este tique só meu de descobrir por detrás das palermices mais insólitas, disparates exclusivos. Mas será que sou só eu a rever no Filipe Soares Franco, as birras daquelas mulheres que depois de adornadas continuam a querer salvar a relação? Seja porque ainda gostam do gajo que lhes ofereceu o cabide, seja porque têm medo de envelhecer sozinhas ou apenas porque não querem saber do gajo para nada, só não têm paciência para ir à procura de outro gajo que as satisfaça na cama. Caro FSF, não desesperes, com um bocadinho de tranquilidade, não tarda nada, estás a reabrir a pernoca! Para não ferir susceptibilidades feministas, claro que se imaginássemos uma mudança de sexo dos protagonistas, a situação se mantinha, com o lucro acrescido de que se fosse o distinto Fifi a realizar essa operação, o enredo ficaria ainda mais verosímil.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Waterboys


SeeqPod - Playable Search


Mike Scott à guitarra, acompanhado de cerveja ao copo, tremoço ao pires e conversa a fluir à mesa...uma banda e tanto.

domingo, 22 de março de 2009

Exemplo de coragem

Admirável a coragem do papa, ao recusar a utilização dos preservativos como meio de prevenção da propagação da SIDA, imediatamente antes da sua viagem a África. É preciso tê-los no sítio. Quase tão provocatório como ir defender a despenalização do aborto para a porta de um centro de acolhimento de crianças deficientes mentais.

Eu compreendo a posição do homem. Ele descende de uma longínqua linhagem de espermatozóides de referência. E de facto, os preservativos são aterradores. Imaginem uma corrida de velocidade. Os participantes alinhados nos blocos de partida. O tiro de partida subsituído por um grito seco "Estou-me a vir!!". A partida desgovernada, um esforço sobrehumano de superação. E no final, num ultimo ânimo, os troncos inclinados para seduzir o photo-finish, e vários pares de cornos a colidirem com uma parede de latex. No mínimo, bárbaro.

Louvável a compaixão de Herr Ratzinger e impossível ficar indiferente, mas convenhamos que há espaços próprios para reivindicar esse tipo de posições políticas. Uma refeição dos Asmat, tribo canibal da Papua Nova Guiné seria uma boa sugestão.

sábado, 21 de março de 2009

Vergonha

Acabou a final da Taça da Liga. Custa de facto ganhar assim, com aquele erro escandaloso a beneficiar-nos. É absolutamente castrador marcar um penalty daqueles. Mas o que é mesmo penoso, é recordar o que toda a equipa do Benfica fez ao Derlei durante o jogo, lesionando-o de todas as formas que o intelecto do brasileiro conseguiu imaginar. Assisti com um aperto sentido a cada rebolar doloroso. Um autêntico mártir rodando em espiral sobre si numa agonia de dor, só para receber umas festinhas na barriga. O homem lutou que nem um herói de Shaolin. Sofreu pontapés, cotoveladas, cabeçadas, dois clisteres, uma colonoscopia e contei pelo menos dezoito dentadas. Indecoroso até para o mais liberal dos aficionados, a tentativa de lhe cortarem a orelha, antes mesmo da conclusão da faena. Cheguei francamente a desconfiar que o crucificassem no final do jogo. E estou convicto que bastaria um biscoitinho para a história daquele penalty falhado ser outra. Um apelo a todos os agentes do futebol: temos de começar a proteger os jogadores como o Derlei, caso contrário o circo não voltará a ser o maior espectáculo do mundo!

Quanto ao jogo em si, uma vergonha. Nem os palhaços se aproveitaram.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Pequeno Pardal









Esta mulher deixa-me a hipertricose auricular toda eriçada...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Uma escolha traumática

RRRRROOOOAAAANNNNNCCCCRCRRR...Quase me asfixiava com a interrupção do roncar!!!...Mas que raio?!?! Por entre o espaço que a remela liberta, vislumbro o estore da janela do quarto a subir. Sentado a meu lado na cama, Batman, sem capa e com uma fatiota rosa choc colada ao corpo, passa-me as mãos pelo cabelo. Mas que palhaçada é esta? Primeiro, com tantos heróis que há por aí, tinha logo de ser acordado pelo mais paneleirote deles todos. Depois, eu ontem rapei integralmente o crânio. Esta treta só pode ser um sonho. Respira fundo, Artimanha. É só um sonho. Só um sonho. Não pode ser, porra!!! Um sonho amaricado. NNNNNÃÃÃÃÃÃÃÕOOOOOOOOOOOO!!!

"Descansa, cara. O tiozinho tem muito carinho guardado para você." Com estas palavras, tentei saltar cama fora, mas o gajo prendeu-me pelos cabelos. Epá...onde vou arranjar paciência para uma briga de gajas, com este stress todo? Eu sou careca, foda-se!!! Silêncio total. Está aqui mais alguém! Nem tinha reparado quem estava a puxar o estore. Com uma vestimenta igual à do Batman, mas sem venda, a minha vizinha do 3º andar com mais 2 ou 3 curvas que o boneco da Michelin, sorri-me de uma forma assustadora. Quase que saltei para o colo do Batman. Time out. Respira fundo. Faltam dois segundos para lançar ao cesto. Ainda dá para planear uma jogada de ataque. Lá longe, começa-se a distinguir uma música de fundo. Reininho a cantar Doce. Se ao menos eu tivesse um revolver por perto, uma bala e punha já fim a isto. Batman e a sexy Goodyear, deslizam num tango arrebatador. Por cima, flutua um contentor de obras donde saem dezenas de remos. Lá dentro, Zico e Sócrates, que nem carrascos romanos esmaltados de preto e branco, chicoteiam a equipa do Nacional da Madeira, escrava de uma qualquer nau. Só faltava agora o cabrão do Jaquim a divagar.

O par maravilha entretanto mudara de dança e saltitava de uma forma estranha, chapinhando numas poças de água que se formavam pelo quarto. Seria a dança da chuva? Já todos tinham água pelos joelhos. Que alívio. Vamos morrer afogados. E eu nem sequer me lembro como se nada. Estou safo. Não. Más notícias. Não cheira a água. Está explicado. Com esta idade, voltei a mijar na cama. Acordo a medo. Tapo os olhos com a vergonha a pesar-me. Não pode ser. Decido espreitar. A cadela da dita vizinha, ao fundo da cama dá à cauda alegremente. Ao meu lado, uma monumental poça de urina. Levanto-me. "Fica". Saio do quarto. Bato com a porta. Tem de haver uma saída daqui para fora.

Entro na sala. Ligo a TV, sem saber porquê. Aparece unicamente um tubo de ensaio quase cheio, com uma legenda elucidativa. Suómetro: 12 litros. Ainda vou morrer durante o sono e desidratado. Abro a porta do frigorífico. Lá dentro, Jacó tem uma lágrima solidificada a querer soltar-se do olho. "Estou frígido, Artimanha". Olha, bem feita. Também nunca queres perder tempo com mulheres, palas de jumento. Deixa lá. Amanhã isso passa-nos. Fecho-lhe a porta na tromba. A porta de casa está trancada por fora. O mundo, hoje, está solidário comigo. Espera lá. Eu não me lembro dos sonhos. Nunca. Só me lembro de acordar de grandes quedas em altura. Está encontrada a solução. Janela aberta. Mergulho de peixe. Fuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Não fui. Aterrei no contentor, versão almofadada. A equipa do Nacional está desfeita. Olhares de terror nos rostos pele e osso. Ou isso, ou os gajos estão sub nutridos, ou o Zico e o Sócrates sodomizaram-nos. Entretanto, as estrelas da canarinha de 82 já não estão lá. Quem dita as regras são uns quantos soldados do III reich. Entre eles, com o fato rosa choc apertadinho (só podia!), Roberto Benigni levanta o copo de vinho que tem na mão. Os alemães imitam-no. Os jogadores do Nacional, com um aspecto muito mais saudável, unem-se todos também num mega brinde. Nisto viram-se todos para mim. Solta-se uma sonora flatulência geral partilhada por todo o grupo e aparece-me um copo na mão, vindo do nada. Cheio. Benigni grita com a sua voz tresloucada: "Wine Taste". Gargalhada geral. "La Vita È Bella". Repete duas vezes no mesmo tom e franze o sobrolho como querendo dizer algo. Provo o vinho. Acordo. Ao menos, não preciso de perder mais tempo a pensar no que vou dar ao meu pai amanhã.

"Se voltas a dormir até mais tarde, Jansénio, é o Javardo que escolhe a fatiota de Carnaval do próximo ano! Só tens poder de veto para vestimentas rosa choc. E só porque temos de ir todos com o mesmo disfarce!"

domingo, 15 de março de 2009

Artimanha Fariseu no Plural.

Vivemos todos desalinhadamente num T5, áreas excessivamente reduzidas para compatibilizar todas as personalidades. Nada de luxos. Um ego comum que comemora as vitórias como se fossem de todos e tranca as vergonhas no quarto do quinto que fez merda. Artimanha Fariseu (AJF) tem cinco inquilinos. Apresento-vos os nomes do meio:
  • Jacó (preferia Jacob, mas o gajo da conservatória fecundou-me a paciência até á exaustão) - O sobrevivente do quinteto. Responsável pelas boas avaliações nos tempos de escola e pelo ganha pão dos dias de hoje. Trata também das lides domésticas, apesar das aptidões limitadas (de qualquer forma, em terra de cegos, ninguém tem coragem de se queixar do gajo a quem o cão guia obedece). Assegura a manutenção da higiene pessoal e trata de minimizar os efeitos dos devaneios de Javardo durante os momentos de distracção e alívio. A sua popularidade no seio do grupo equivale à dimensão fálica, após o banho nas manhãs em que falta o gás. Roça o workaholicismo nos momentos de stress, pelo que é "carinhosamente" alcunhado pelos restantes de "palas de jumento". Fez-nos chegar aos dias de hoje.
  • Javardo - Um laxante explosivo. Mistura da infância que não fica para trás e de uma taradice sexual sem limites, com umas pitadas de nojo inerentes a um sadismo de origem desconhecida. Existe entre os restantes quatro uma escala de vigia, para impedir que os seus actos provoquem consequências sem retorno. Responsável pelos índices elevados de impopularidade de Artimanha junto das mulheres e namoradas dos seus amigos. Apesar dos outros residentes lhe terem retirado a verba acordada para o efeito, após embriaguez terminal numa noite de copos a solo, continua a tentar concluir monografia sobre "Obrigação de libertação de escarros durante períodos de expectoração densa vs Malefícios de contenção de gases em locais públicos". Desde que Artimanha descobriu que o sexo poderia ser praticado no plural, está condenado a doses inibitórias de sedativos, ao mínimo sinal de erecção.
  • Jaquim (perdeu o "o" quando uma namorada de tempos idos o surpreendeu furiosamente a coçar os tomates numa esplanada, num momento de distracção em que permitiu que Javardo assumisse os comandos) - É o lunático do conjunto. Padece desde pirralho de desportite aguda. Responsável pela descoberta tardia do universo feminino, ao preencher grande parte da adolescência em actividades desportivas de qualquer espécie, e pelo trauma de simular até aos 15 anos de idade, partidas de futebol de resultado viciado entre pequenos estrumpfes azuis com barretes imaculadamente brancos, sobre a sua cama propositadamente arrelvada para o efeito. Sabe tudo sobre praticamente todos as modalidades praticadas no mundo ocidental e atinge estados de hipnose total durante a leitura dos diários desportivos ou transmissões televisivas de jogos de futebol. Nestes últimos períodos, é vulgar imobilizar todas as restantes personalidades, ao conseguir elevar as suas nádegas a forças da Natureza inamovíveis de um qualquer sofá que exista por perto. Os outros servem-lhe a vingança, vedando-lhe o aceso ao álcool nessas ocasiões de prazer extremo (impedindo-lhe a descoberta dos orgasmos múltiplos). Preenche a metade do cérebro humano que Artimanha não sabe usar, com contentores cheios de informações detalhadíssimas, referentes a vários desportos desde os inícios da década de 80. Vive presentemente dias de inércia, por não conseguir ultrapassar a depressão que o momento do Benfica lhe provoca. Os restantes auguram-lhe grande protagonismo nos cafés do bairro, se Artimanha conseguir viver até aos anos da senilidade.
  • Judas - É o menino bonito do grupo. Aquele que busca os momentos de lazer de qualidade menos duvidosa. Cultiva um certo gosto pela leitura e cinema. Apesar da preguiça inequívoca, é ele que assegura que a masturbação não se torne um part-time na vida de Artimanha. É dotado de inteligência e sentido de humor que domina todos os restantes sem grande esforço. Jacó bebe dos seus conselhos, Javardo aprecia-lhe particularmente a ironia e o sarcasmo e Jaquim agradece-lhe o raciocínio rápido para encher contentor atrás de contentor no seu caminho para lado nenhum.
  • Jansénio (adorei vê-lo na lista dos nomes aceites pela conservatória e se o destino me pregar uma partida e descobrir o caminho marítimo para a paternidade, prometo chamar de Jansénio o meu décimo filho varão) - Jansénio é o neutro. O juiz sensato. Regula desequilibradamente os tempos de antena dos restantes, por forma a impedir actividades criminosas no encéfalo comum, prevenindo e adiando a alienação mental. É ele o guardião involuntário do livro de reclamações, como tal, em caso de leso, enderecem mail ao seu cuidado.

Nós somos Artimanha Fariseu. Muito prazer. Com sorte, voltaremos a falar. Abraço.