sábado, 30 de maio de 2009

Star Crossed

Quando ouvi falar deste filme, pensei tratar-se de um pacote anedótico que teria apanhado tardiamente. Afinal não. Este filme existe mesmo e recorre a um modelo comum no mundo da pornografia (coitadinha da branca de neve), o cruzamento de um argumento célebre com um cenário presumivelmente apelativo. Tem quase tudo para ser um filme muito mau. Só falta estrear.

Let's look at the trailer...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O corte das 22 orelhas

Eu não disse que ia ser uma jogatana e tanto? Pois disse. Só que eu também me engano. E então quando me agarro a convicções que me parecem seguras, a frequência é gritante. Não foi um grande jogo, foi um espectáculo de tauromaquia sem ferros. Abissal a diferença entre a circulação de bola. Só comparável ao desespero de passar um jogo inteiro a correr atrás dela. Corrida à espanhola, contudo. O único cavalo que por ali passou, andou sempre perdido em esforços isolados e pouco colectivos, como é seu hábito. No fundo, persiste aí a diferença. Quem tem a aptidão de perceber, que a união dos esforços de 11 talentos supera a capacidade de um sobredotado, consegue inevitavelmente chegar mais longe. E repete-se a noção de que o Barcelona, quando em vantagem, impõe o ritmo de jogo de forma soberba e quase parece divertir-se por definir onde, como e quando mata o jogo. Se o esférico pudesse compensar quem o acariciou de forma mais respeitosa, seguramente que o destino da taça seria o mesmo.

Uma figura discreta, e cada vez menos inesperada, emergiu da constelação de estrelas presente em Roma. O jogador de futebol mais inteligente da actualidade: Andrés Iniesta. Um bandarilheiro levado em ombros por toureiros afamados. Sem dúvida, "més que un club". O Barça triunfou.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Venha de lá o primogénito



Esta música escancara qualquer alma...

Não era?

A expressividade dos "não era?", da publicidade da CP aos alfa pendular, atinge um comprimento de onda tal que me desarma os sentidos. Alguém sabe de quem é aquela voz?

Mais do mesmo

A Tektónica é a feira das vaidades da construção em Portugal, onde todas as empresas fornecedoras que querem ganhar notoriedade, adquirem um espaço a custos proibitivos para se promoverem. Repeti a visita desconfiado, já no último dia, se bem que com a agitação do fim de semana, o tema foi ficando pendente. Desconfiado porque, ano após ano, a capacidade de inovar tecnologicamente é invariavelmente subjugada à ostentação de grandes stands, onde se exibem uma repetição de torneirinhas, mosaiquinhos, penicozinhos e mais o diabo que os carregue. Uma feira para arquitectos de interiores, decoradoras e atrelados cheios de tias com as bagageiras repletas de revistas de decoração. Estranhamente, e apesar da crise, continuam presentes todas as espécies do "shire": o pato bravo barrigudo, com a companheira nádegas de abóbora; o comercial noviço, rosto corado e vestuário excessivo; o comercial experiente com o seu penteado rebelde, já grisalho, a disfarçar o olhar pedante e a argumentação técnica insustentada; o perito envergonhado que tenta passar despercebido para sobreviver fora do habitat natural (muitas das vezes recrutado como ilusionista de circo); o estudante assustado (e não é caso para menos); e os visitantes comuns (o que vem para socializar e despejar uns canecos, o que vem para se despachar e ir para casa mais cedo e os que vêm para dizer mal e espreitar gajas, ou seja, eu e mais uns quantos palhaços).

Uma tristeza que, nos tempos que correm, ninguém reme contra a maré. Aquela máxima que a adversidade aguça o engenho, neste caso simplesmente não se aplica. Não há um lampejo de criatividade. Um trolha trovador que cante uns piropos de cima de um andaime (e não era assim tão difícil, andaimes havia muitos e devotos da piroseira também). Ensaios ao corte em mosaicos cerâmicos efectuados com crânios grisalhos (admito que certas peneiras me irritam solenemente). Concursos de design para torneiras a realizar entre os visitantes (aposto que 90 % das obras primas eram piretes). Piscinas com modelos em bikini na bordinha (minto, estas estavam lá). Capacetes de obra em forma de painéis solares/outdoors, que por acumulação de energia exibam fotos de gajas nuas em slide. Betoneiras/sanitas para o desenvolvimento de argamassas de fibras orgânicas recicladas. Tradutores de bolso electrónicos, com conversões múltiplas para os dialectos ucraniano, moldavo, crioulo, brasileiro, palopiano, vernáculo de obra e português. Sistemas de domótica incorporados com interfaces para bimbys, aptos a elaborar refeições sem necessidade de ingredientes (agradeço a ausência específica desta simpatia, senão lá estava eu condenado a servir jantares em casa). Divisórias com barreiras acústicas automatizadas, com activação sonora despoletada por orgasmos sonoros ou ranger de camas. E por aí fora.

Os únicos que salvam a honra do convento são mesmo os espaços da Zon, que se mantêm fieis aos propósitos da surpresa e da inovação. Porque nunca se percebe o que estão lá a fazer. E porque este ano, aquelas meninas embrulhadas em vácuo, deixaram os intelectos de vocação curiosa a salivar em excesso.

É por tudo isto que sinto uma inveja sincera, sempre que vejo os sorrisos dos gigantes da NBA a acompanharem o "I love this game".

terça-feira, 26 de maio de 2009

Porque estão aí a estourar...



AC/DC no estado ainda mais puro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Champions Si o Si"

Como as lides por cá estavam praticamente definidas e o fim de semana estava livre, aceitei um desafio de impulso e fui realizar um sonho de outros tempos. Mochila na bagageira. 500 quilómetros de percurso. Destino: Estádio Ramon Sanchez Pizjuan. Há já algum tempo que o B. me aliciava para espreitar o futebol do país vizinho. Recusei uma e outra vez, pela hora tardia de Domingo. Hesitei perante o interesse de jogos em Huelva e Almeria. Mas Sevilha é diferente. Tem outros encantos. Outras paisagens. E o Sevilla-Depor ao vivo.

Com a chegada em cima da hora, toca de levantar bilhetes, arranjar alojamento e devorar curiosidades. Pelo prazer do futebol jogado a um outro nível. A qualidade de passe. A geometria do futebol. O rigor da táctica. A ausência de simulações. Sobretudo a intensidade do jogo. Tudo um passo à nossa frente. Um campeonato com estádios cheios. Com regionalismos. Com orgulhos genuínos e não repartidos. E praticados num equilíbrio quase geral. Bónus número 1. Homenagem ao capitão Javi Navarro que se retira. Primeiro momento arrepiante. Bónus número 2, com a entrada das equipas em campo. 46000 goelas afinadas gritam a plenos pulmões a melodia que anexo. Garanto-vos que eriçou os pelos do cu ao mais indiferente dos espectadores ali presentes. Um jogo intenso. Um resultado suspenso até ao último minuto. Uma claque como nunca tinha visto, que não se cala e que vale muito mais que um 12º jogador. Se o Nuno Gomes ali jogasse, encarnava o Petit com os dentes ainda mais tortos e umas gengivas capazes de morder o mais inatingível desafio. Bónus número 3. Ida à champions. Fogo de artificio. Uma hora presos no estádio entre milhares de almas a levitar entre cânticos e coreografias. O contágio do calor das gentes da Andaluzia. Fiquei fã. Porra. Fiquei mesmo.

Antes dos outros quinhentos quilómetros, para os entendidos, confirmei que do outro lado do balcão central do Antique, o significado da palavra biberonazos continua repleto de todo o seu esplendor. Apesar de em Liverpool estes atributos serem mais escassos, Anfield está prometido. Não sei para quando. Mas vamos lá.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O anónimo mais exposto do momento


Um gajo não pode deslocar-se por uma via rodoviária em Lisboa, sem dar de caras com esta fronha. Este outdoor tem o mérito raro, dia após dia, de me conduzir instintivamente a perguntas, para as quais não tenho qualquer curiosidade em saber a resposta.

O que é o MMS? Quem é este vulto? Porque lhe fizeram uma estátua de cera? Quanto tempo se aguentará ali? Será que o gajo amanhã solta uma gargalhada? Será que alguém se importa? Será que alguém ainda repara que esta criatura ainda aqui está? Mérito de quem? Mudar o quê e para quê? Morreu-lhe alguém? São estes os efeitos da gripe suína? Ou das aves? Estes tipos não têm outra avestruz noutro outdoor? Porque é que esta velha não se encosta à direita? É esta a personificação da descrença total? O que diria disto a higiene dental da Monica Lewinsky? Quem foi o idiota que marcou eleições para uma semana com três dias de trabalho? Em que praia é que não vou votar? Será que mais alguém se lembrou que esta figura ficava com mais personalidade, se lhe intrometessem o emplastro sobre o ombro direito? Porque é que este sentimento de culpa me consome sempre no final da CRIL? De que clube será este fantasma? Quem comprámos nós hoje? Se por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher, porque é que este coitado só tem direito a uma estrutura de ferro? Ninguém tem coragem de sepultar os caixilhos e laminados? Quem sabe amanhã não aparece uma campanha megalómana de uma marca de lingerie? Quando é que te calas?

Sapatos Vermelhos


Apesar da colagem, esta jovem promete...

Adeus para quando?

Se eu não estivesse em blackout, diria que a presidência de Bettencourt vai criar uma ventania de credibilidade de sentido único na segunda circular (até as orelhas vão servir para vendar olhos).

domingo, 17 de maio de 2009

Sinais da PDI e outros...

Fim de semana pacato e tranquilo para recuperar ânimos, na companhia agradável de casais amigos e respectivos rebentos. Ideias a reter:

  • As francesinhas com o ovo estrelado encavalitado do Amandius, em Santa Maria da Feira são uma experiência pecaminosa única.
  • Noto que as crianças olham para mim com segundas intenções. Ou o peso dos anos me está a surripiar o meu ar ameaçador, ou são elas que se estão a tornar mais destemidas e começam a achar-me habilitado a entrar nas suas brincadeiras. Em todo o caso, ver se da próxima vez consigo trazer uma acompanhante (brincar com putos tira-nos anos de vida).
  • Da próxima vez que tiver de partilhar espaços comuns com petizes logo pela manhã, não esquecer de vir preparado com boiões de urina. Acordar com a tesão do mijo implica dores renais difíceis de olvidar.
  • Não sou pessoa habilitada a opinar sobre o potencial natural da Ria de Aveiro. Ou qualquer outro aspecto da Natureza. Eu sou bicho de urbe e quando me afastam do pulsar das cidades, posso estar em paz, mas perco a lucidez. Por falar nisto, delineei plano alternativo de férias (ainda por ultimar antes de divulgar).
  • Desconfio que Playstation pode ser sinónimo de overdose terminal. Qualquer memória minha a jogar playstation este fim de semana, é pura ficção.
  • Apreciei com inveja uma distinta e numerosa colecção de miniaturas de automóveis e espiolhei um mapa mundi com marcação cuidada de centenas de rádio-amadores espalhados por todos os continentes. Tudo isto nas águas furtadas de um sexagenário. Será que me desvirgaram a 3ª idade? Maldição.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Conversas indigestas

Não sei como são as outras sextas-feiras (excepto a do robinson crusoe), mas as minhas primam pela peculiaridade. Ou gozam de uma boa disposição contagiante (quando aperientes de um fim de semana catita), ou abriguem-se, porque vamos ser sobrevoados por um bando de búfalos voadores incontinentes. A manhã da passada sexta-feira corria lindamente, até me lembrar de fazer este telefonema:

AJF - Muito bom dia. Fala AJF. Posso falar com a D. Xiribitatatá?
Aprendiz de Xiribitatatá - Muito bom dia. Como está? Só um momento, vou chamar.
Xiribitatatá - Bom dia, Sr. AJF. Bem disposto? Posso avançar com o trabalho? Estamos com tudo pronto para começar.
AJF (a marcar desde logo território) - Pode avançar, sim. Mas eu não aceito o acréscimo de preço. Tem de ser pelo preço inicial.
Xiribitatatá - De maneira nenhuma. Não pode ser. Esta amostra está linda de morrer. Gostava que visse. Mas vamos ter muito mais trabalho. Tenho de cobrar mais 5 €/m2, conforme lhe disse. Ou então, entrego-lhe as pedras conforme as amostras que lhe mostrei ontem.
AJF (a recorrer a estratégia de ataque contida) - Desculpe lá, mas as amostras que me mostrou ontem não se apresentam a ninguém. Sinceramente, invejo-lhe a coragem.
Xiribitatatá - Pois. Mas vou ter mais trabalho e não lhe posso manter o preço.
AJF (a esgotar a lucidez) - D. Xiribitatatá, por favor acompanhe-me o raciocínio. Vocês apresentaram duas amostras com dois preços diferentes e dois acabamentos diferentes. O nosso cliente escolheu uma delas e aceitou o preço respectivo. E agora no fim do jogo é que vêm mudar as regras? O cliente não aceita e eu, no lugar dele, também não aceitava. Apenas se pretende que forneçam as pedras com o acabamento proposto, ao preço acordado.
Xiribitatatá - Sr. AJF, o preço é o último que lhe disse. Não posso fazer nada.
AJF (a conter a explosão eminente) - Mas não foram vocês que apresentaram a amostra? Não foram vocês que fizeram o preço?
Xiribitatatá - Não insista. Não posso fazer nada.
AJF (desço duas oitavas, subo uns quantos decibéis) - Vocês sinceramente têm uma lata. Eu sabia que me ia dar mal. Saltam-nos por cima e falam directamente com o cliente. Acordam o preço com ele. Acordam a amostra com ele. Ainda me tentam apanhar na curva, por causa da diferença de acabamentos. Numa altura que todos nós andamos a receber a 30, 60, 90 e às vezes 180 dias, vocês exigem pagamento a pronto. Neste caso, como têm de trabalhar a treta do acabamento da pedra depois de acabada, ainda reclamam, e conseguem, o pagamento antecipado. Agora que têm o dinheiro desse lado, têm o descaramento de ainda vir pedir mais dinheiro, porque não conseguem fazer o trabalho como deve ser? Costumam guardar a ética para ocasiões especiais?
Xiribitatatá - Lamento. Eu não vou perder dinheiro com este trabalho.
AJF (a empenhar-me para não deixar resvalar o nível da conversa) - Pois então guarde as pedras onde mais lhe convier, que eu não quero saber delas para nada. Depois confirmo-lhe como procederemos para devolverem o montante que já receberam, ou se o convertemos no resto do material ainda por entregar.
Xiribitatatá - Eu...não vou...perder dinheiro...com este trabalho.
AJF (a resistir à necessidade de esmurrar o monitor ou arremessar o telefone pela janela entreaberta) - Passe bem.

Desligo a merda do telefone. Respiro fundo e grito a plenos pulmões: "FODA-SE!". Nisto, levanto-me e deparo com os olhares inesperados da F e do J por cima do biombo. "Ficámos à tua espera. Achas que consegues vir almoçar connosco?"

Tudo isto seria superável se, entretanto, o imaculado cliente não se preparasse para aceitar a subida de preço. Amanhã, desconfio que vou ter de almoçar um sapo gigante, cru e provavelmente com as unhas por cortar, que me vai dar cabo da garganta ao engolir.

domingo, 10 de maio de 2009

O efeito surpresa

Depois de um almoço em família, passei pelo "quiosque" do costume para abastecer leitura. Waypoints já memorizados. Tarefa para cinco minutos, no máximo. Mesmo ao lado do primeiro alvo, distraí-me com este "pequeno". Deitei-lhe o olhar com curiosidade mínima e pesquisei duas ou três passagens das primeiras páginas. Saltei uma ou outra página e acabei enleado numa armadilha, em que cada ideia solta só tinha uma saída. A próxima ideia solta. Incrível, como o humor negro e a genuinidade se podem converter numa arma de comoção maciça. Depois dos cinco minutos se repetirem inúmeras vezes e de vasculhar praticamente todo o livro, saí de lá tão desarrumado como se de um episódio invulgar de sexo ocasional se tratasse. Sem verbalização. Sem partilha de identidades. Apenas um mergulho na intimidade. Algum tempo depois, voltei embaraçado ao local do crime, para recolher os livros que tinha na minha lista de compras. Conforme transcrição do Le Monde: "Não se deve contar este livro. Nunca será tão bom como lê-lo". Limitei-me a comprová-lo.

Duetos mórbidos


sábado, 9 de maio de 2009

Uma vergonha...Vocês são uma vergonha...

  • Antes que eu me irrite, alguém explique por obséquio àquele bando de trolhas equipados de vermelho, que para ganhar jogos é preciso correr mais que os adversários (e que para ganhar títulos, esta premissa tem de se repetir todas as semanas).
  • Antes que eu me passe dos carretos, alguém explique por piedade àqueles pobres miseráveis emproados, que nas bolas paradas quem leva a melhor é quem está mais concentrado e tem mais querer.
  • Antes que eu perca as estribeiras, alguém explique por especial favor ao Quique, que para mexer mal, mais vale estar quieto e que a equipa, por lógica, renderá mais se os jogadores actuarem nas respectivas posições.
  • Antes que eu me desnorteie, alguém explique encarecidamente ao Di Maria, que apesar de ser um gajo rápido e habilidoso, quando a condição física lhe falta não acerta uma, porque o cérebro de um quadrúpede de pouco vale a um profissional de futebol (e que para fazer aquelas figuras quando é substituído, a ama seca bem que lhe podia rebentar o acne juvenil com umas valentes jardas na fronha).
  • Antes que o meu raciocínio se despiste, alguém explique por caridade ao Balboa, que a pusilanimidade injustificada deveria conceder justa causa para incumprimento salarial.
  • Antes que eu perca a cabeça, alguém explique por cortesia a quem quer que seja que escolhe o plantel, que uma equipa ambiciosa se constrói com jogadores que ainda não ganharam nada e não com vedetas que pariram incapazes.
  • Antes que me salte a tampa, alguém explique ao Orelhas, como quem explica a um atrasado mental, que quem ganhou aquele título longínquo foi o Veiga e que já chega de estragar.
  • Antes que a mostarda me estoire com a penca, alguém ponha ordem naquela merda!!!
  • Antes que este blog perca a pouca credibilidade que lhe resta, vou entrar em blackout...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Meant to be together

Por orientação marcadamente realista, quando vou ver um filme, aprecio por preferência argumentos com finais inesperados e arrasadores. Porque o humor negro é o mais desconcertante (logo o mais encantador). Porque ansiamos pela capacidade de ainda nos conseguirem surpreender. Porque são, indiscutivelmente, os mais credíveis. No fundo, as nossas vidas estão também condenadas a um epílogo infeliz, a morte, e mesmo depois disso (a ideia de um gajo estar fechado num caixão, pálido, a cheirar mal, sozinho, sem net nem televisão, pode ser tudo menos agradável) só podem piorar.

Há pouco, com o jogo de Stamford Birdge a acabar, parecia-me estar a assistir a um bom filme. A ideia da final da Champions não ser um Barça - Man Utd (o jogo mais espectacular que se pode esperar nos dias que correm) era um desígnio digno do maior murro no estômago. Como se o príncipe encantado conseguisse eliminar todas as bruxas, demónios, dragões e Tommy Ovrebos que lhe aparecessem, para ficar com a Bela adormecida e, mesmo antes do final, descobrir que ela ressonava ruidosamente e era afinal um travesti peludo.

O salto que dei com aquele truque do destino que o Iniesta aplicou ao Chelsea, fez-me sentir uma donzela a suspirar com o desfecho em tons de rosa duma qualquer comédia romântica. Quero acreditar que este entusiasmo não é um fenómeno de despatriação (vou registar patente desta), mas apenas um flirt passageiro, originado pela falta de apetite sexual recente do meu amor de sempre (Recente é um eufemismo. O Benfica estar frígido é outro. A ideia de nos estar a encornar seria poética, mas infelizmente idiota.).
Em todo o caso, a imagem daquele puto a chorar vai correr mundo. Convém que alguém lhe conte uma história diferente antes de dormir. Por exemplo, que a final de Roma vai ser um dos maiores desafios dos últimos anos (espero não me enganar). Ou, em último caso, que os melhores filmes são os que têm os piores finais.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Saber que existem por aí mundos perdidos por descobrir é, por si só, uma tentação



Para quem quer se soltar
Invento cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de encontrar

Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir
Eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir

Invento o cais
E sei a vez de me lançar

Um Senhor

Hollywood já conseguiu estrelar um presidente dos Estados Unidos, um governador da Califórnia e sabe-se lá que mais, com ovos de qualidade duvidosa. Mas o seu grande "mérito" é conseguir que Clint Eastwood, apesar da sua longa carreira de actor, não tenha adulterado o seu requintado bom gosto e continue a partilhá-lo connosco.

Acabei por conseguir ver o Gran Torino já a destempo, com o prejuízo de muitas opiniões favoráveis e expectativas elevadas, que é meio caminho para ficar desiludido. Pois não fiquei.

domingo, 3 de maio de 2009

Assim, a crise em Portugal não desaparece...

Noticia de última hora. David Luís garante a titularidade para o resto da época, com a condição de jogar de muletas para não prejudicar os automatismos de toda a equipa. Quando profissionais de futebol participam num jogo como se estivessem a passear num campo de golf, a culpa não pode ser só do treinador. Mesmo quando este tem o hábito de pintar os olhos.

Para não ser só dizer mal, deixo uma sugestão construtiva. Um mês de vencimentos do plantel principal do Benfica dá para pagar a grande maioria dos salários em atraso de toda a Superliga.



Descobri esta voz por uma sobreposição de coincidências recentes, mas com a frequência a que não consigo deixar de a ouvir, corro sérios riscos de me enjoar...

Uma escolha bem menos traumática

Hoje acordei com um sorriso nos lábios. Sonhei que a Scarlett Johansson me andava a passear num carrinho de bebé, no Madison Square Garden. Assistimos a um jogo dos Knicks. O Bill Murray fez-me cócegas na pancinha. O Pat Ewing tirou-me a chucha e só não levou uma regadela na testa, porque afinal eu estava de fraldas e acabei mesmo foi por ficar todo encharcado. Descobri que o Woody Allen não sabe construir piadas para crianças, desatei num pranto quando o McEnroe teve a ousadia de me pegar ao colo, mas adorei o colo almofadado da Mariah Carey. Jogo terminado (deve ter sido das poucas vezes em que um resultado me passou despercebido, mas estava em hipnose total com aquelas chupetas) e fui ver as montras com a minha yummy mummy. Consegui entornar uns frascos de perfume, agarrei-me a um bonsai a ver se ele podia vir brincar connosco e puxei as orelhas a um Labrador Retriever com uma paciência de santo. Para mal dos meus pecados, acabámos numa joalharia de volta dumas pulseiras, a que francamente não achei piada nenhuma na altura. Descobri que no carrinho transportava um porta-moedas bem carregadinho que julguei ser o meu pé de meia (ser filho de famosos deve dar uns bons rendimentos), quando a minha mãe de ocasião mo tirou para pagar. Ouvi a mamã a indagar preços entre prata e ouro (um pouco estranho, mas como me parecia que afinal era eu que pagava, achei apropriado que ela escolhesse a peça em prata). Chorei até arroxear, quando vi que a sacola das moedas ia ficar praticamente vazia, a ver se conseguia uma devolução atempada, mas acabei desarmado quando ouvi "Vá, chegou a hora do meu menino mamar." Caramba, tentei esfregar as mãos de júbilo mas para um bebé é difícil. O máximo que consegui foi esbugalhar os olhos, esbracejar e espernear vigorosamente e babar-me de excitação até me conseguir engasgar. Quando finalmente chegou a hora de meter os beiços nas minhas mamas de aluguer, toca o raio do despertador e arrebita caminho para o IKEA. Apesar de ter ficado a um danoninho de distância, há acordares muito piores.

P.S. Mãezinha, a prenda está escolhida mas podes trocar. Apesar da narração exaltada, o único artigo insubstituível és mesmo tu.

sábado, 2 de maio de 2009

Peregrinação

Eu, que consegui mobilar toda a minha cabana sem me converter à tentação IKEA (seguir modas atrofia-me o ânimo), hoje, mal saltei das palhinhas onde estava deitado, dirigi-me sem demora (para evitar atropelos, que é a maior das minhas alergias) à catedral religiosa mais frequentada da capital e arredores. Tudo, porque uma criatura iluminada se lembrou que queria construir um roupeiro com umas linhas limpas e modernas, semelhante a um que descobriu no IKEA. Deixei o profissional convencer o preguiçoso e acabei por sair de lá muito mais bem disposto do que entrei. Por isto:

  • Primeiro, apesar do magote de gente ser incrivelmente numeroso (e eu a pensar, que àquelas horas da madrugada, ia chegar lá antes do resto do mundo), os suecos são de facto muito metódicos e depois de conseguir livrar-me da viatura de transporte, acabei por fazer o meu percurso tranquilamente, vi o que tinha a ver, comprei o que descobri que afinal precisava de comprar, e nem stressei em excesso.
  • Segundo, até se encontram umas macacadas úteis e em conta, que até precisávamos, mas cuja necessidade não era assim tão premente que nos obrigasse a levantar o cu do sofá para as comprar. Resumindo, equilibrei a quantidade de louça para rentabilizar a lavagem semanal da máquina e não precisar de andar a revezar louça já usada, mas não suficientemente suja.
  • Terceiro, embora tenha seguido religiosamente as setas que me iam aparecendo, devo ter falhado a praça onde o sacerdote máximo aparece à janela para saudar o rancho de peregrinos e, com isso, poupado imenso tempo e doses enormes de mau feitio. Só por isto, logo depois de pagar, rezei uma avé-maria enquanto me dirigia de volta ao carro. Incrível, como muitas das vezes não me lembro onde estacionei o carro (esta inclusive), mas consigo recordar uma cantilena que não rezava há vinte anos.
  • Quarto, e este é fundamental para todos nós que vivemos, dormimos, sonhamos e acordamos a respirar futebol. Nós, os fanáticos da bola. Afinal, não estamos sozinhos. Existem outros cultos completamente estúpidos que fazem mexer este país. Ainda bem.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

The Black Album



Quem foi o amigo da onça que não me devolveu o preto?

A.V.J.A.

Como qualquer espécime masculino que se preze, considero-me um perseguidor de objectivos singulares bem definidos. Nada de acumular tarefas simultâneas. As misturas corrompem-nos. A mínima dispersão é uma justificação plausível para um sucesso menos conseguido. Enquanto ressaco, tento discriminar o consumo ávido de livros ao desafio que vem de longe. Enid Blyton à desgarrada, alternando Cinco e Sete. Uma Aventura degrau a degrau. Hercule Poirot, Miss Marple, o casal T (Tommy e Tuppence) e o Inspector Battle, num compromisso monogâmico com Agatha Christie. O deslumbramento da descoberta do Eça. O longo hiato nas memórias, eventualmente justificado pela porfia de outras vivências, intercalada com uma ou outra curiosidade regressiva. O regresso do papa-livros às bases, com a descoberta dos mundos fantásticos. A fase do Tolkien. As semanas sem pregar olho das trilogias de Juliet Marillier. Anne Bishop e as suas teias. O início do registo pseudo-histórico-religioso. Dan Brown e a clonagem exaustiva do modelo. A vampiragem de Lukyanenko. A fadiga. Reiniciar bússola.
Hoje, preciso de comprar um livro com urgência. Ele é Superpower. Astro. Travian. Football Manager. Hockey Arena. Pro Cycling Manager. Charazay Basketball Manager. Fantasy na Premier League, Champions League e UEFA cup. Manager Zone. Devoro tudo o que seja estratégia online. Nos tempos mortos, recorro a mezinhas caseiras. Desintoxicação imediata precisa-se. É isso. Amanhã, logo pela manhã, estou à porta da Fnac do Colombo.

Se não resultar, recorro ao desespero dos classificados. "Procura-se agricultora humilde para actividades lúdicas de intimidade avançada de carácter temporário. Seios volumosos e ancas de contornos bem torneados são atributos valorizáveis, mas não indispensáveis. A posse de quaisquer conhecimentos informáticos exclui automaticamente eventuais candidatas."

Enquanto não amanhece, vou tomar só mais uma dose...