quarta-feira, 18 de março de 2009

Uma escolha traumática

RRRRROOOOAAAANNNNNCCCCRCRRR...Quase me asfixiava com a interrupção do roncar!!!...Mas que raio?!?! Por entre o espaço que a remela liberta, vislumbro o estore da janela do quarto a subir. Sentado a meu lado na cama, Batman, sem capa e com uma fatiota rosa choc colada ao corpo, passa-me as mãos pelo cabelo. Mas que palhaçada é esta? Primeiro, com tantos heróis que há por aí, tinha logo de ser acordado pelo mais paneleirote deles todos. Depois, eu ontem rapei integralmente o crânio. Esta treta só pode ser um sonho. Respira fundo, Artimanha. É só um sonho. Só um sonho. Não pode ser, porra!!! Um sonho amaricado. NNNNNÃÃÃÃÃÃÃÕOOOOOOOOOOOO!!!

"Descansa, cara. O tiozinho tem muito carinho guardado para você." Com estas palavras, tentei saltar cama fora, mas o gajo prendeu-me pelos cabelos. Epá...onde vou arranjar paciência para uma briga de gajas, com este stress todo? Eu sou careca, foda-se!!! Silêncio total. Está aqui mais alguém! Nem tinha reparado quem estava a puxar o estore. Com uma vestimenta igual à do Batman, mas sem venda, a minha vizinha do 3º andar com mais 2 ou 3 curvas que o boneco da Michelin, sorri-me de uma forma assustadora. Quase que saltei para o colo do Batman. Time out. Respira fundo. Faltam dois segundos para lançar ao cesto. Ainda dá para planear uma jogada de ataque. Lá longe, começa-se a distinguir uma música de fundo. Reininho a cantar Doce. Se ao menos eu tivesse um revolver por perto, uma bala e punha já fim a isto. Batman e a sexy Goodyear, deslizam num tango arrebatador. Por cima, flutua um contentor de obras donde saem dezenas de remos. Lá dentro, Zico e Sócrates, que nem carrascos romanos esmaltados de preto e branco, chicoteiam a equipa do Nacional da Madeira, escrava de uma qualquer nau. Só faltava agora o cabrão do Jaquim a divagar.

O par maravilha entretanto mudara de dança e saltitava de uma forma estranha, chapinhando numas poças de água que se formavam pelo quarto. Seria a dança da chuva? Já todos tinham água pelos joelhos. Que alívio. Vamos morrer afogados. E eu nem sequer me lembro como se nada. Estou safo. Não. Más notícias. Não cheira a água. Está explicado. Com esta idade, voltei a mijar na cama. Acordo a medo. Tapo os olhos com a vergonha a pesar-me. Não pode ser. Decido espreitar. A cadela da dita vizinha, ao fundo da cama dá à cauda alegremente. Ao meu lado, uma monumental poça de urina. Levanto-me. "Fica". Saio do quarto. Bato com a porta. Tem de haver uma saída daqui para fora.

Entro na sala. Ligo a TV, sem saber porquê. Aparece unicamente um tubo de ensaio quase cheio, com uma legenda elucidativa. Suómetro: 12 litros. Ainda vou morrer durante o sono e desidratado. Abro a porta do frigorífico. Lá dentro, Jacó tem uma lágrima solidificada a querer soltar-se do olho. "Estou frígido, Artimanha". Olha, bem feita. Também nunca queres perder tempo com mulheres, palas de jumento. Deixa lá. Amanhã isso passa-nos. Fecho-lhe a porta na tromba. A porta de casa está trancada por fora. O mundo, hoje, está solidário comigo. Espera lá. Eu não me lembro dos sonhos. Nunca. Só me lembro de acordar de grandes quedas em altura. Está encontrada a solução. Janela aberta. Mergulho de peixe. Fuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Não fui. Aterrei no contentor, versão almofadada. A equipa do Nacional está desfeita. Olhares de terror nos rostos pele e osso. Ou isso, ou os gajos estão sub nutridos, ou o Zico e o Sócrates sodomizaram-nos. Entretanto, as estrelas da canarinha de 82 já não estão lá. Quem dita as regras são uns quantos soldados do III reich. Entre eles, com o fato rosa choc apertadinho (só podia!), Roberto Benigni levanta o copo de vinho que tem na mão. Os alemães imitam-no. Os jogadores do Nacional, com um aspecto muito mais saudável, unem-se todos também num mega brinde. Nisto viram-se todos para mim. Solta-se uma sonora flatulência geral partilhada por todo o grupo e aparece-me um copo na mão, vindo do nada. Cheio. Benigni grita com a sua voz tresloucada: "Wine Taste". Gargalhada geral. "La Vita È Bella". Repete duas vezes no mesmo tom e franze o sobrolho como querendo dizer algo. Provo o vinho. Acordo. Ao menos, não preciso de perder mais tempo a pensar no que vou dar ao meu pai amanhã.

"Se voltas a dormir até mais tarde, Jansénio, é o Javardo que escolhe a fatiota de Carnaval do próximo ano! Só tens poder de veto para vestimentas rosa choc. E só porque temos de ir todos com o mesmo disfarce!"

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