quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mais do mesmo

A Tektónica é a feira das vaidades da construção em Portugal, onde todas as empresas fornecedoras que querem ganhar notoriedade, adquirem um espaço a custos proibitivos para se promoverem. Repeti a visita desconfiado, já no último dia, se bem que com a agitação do fim de semana, o tema foi ficando pendente. Desconfiado porque, ano após ano, a capacidade de inovar tecnologicamente é invariavelmente subjugada à ostentação de grandes stands, onde se exibem uma repetição de torneirinhas, mosaiquinhos, penicozinhos e mais o diabo que os carregue. Uma feira para arquitectos de interiores, decoradoras e atrelados cheios de tias com as bagageiras repletas de revistas de decoração. Estranhamente, e apesar da crise, continuam presentes todas as espécies do "shire": o pato bravo barrigudo, com a companheira nádegas de abóbora; o comercial noviço, rosto corado e vestuário excessivo; o comercial experiente com o seu penteado rebelde, já grisalho, a disfarçar o olhar pedante e a argumentação técnica insustentada; o perito envergonhado que tenta passar despercebido para sobreviver fora do habitat natural (muitas das vezes recrutado como ilusionista de circo); o estudante assustado (e não é caso para menos); e os visitantes comuns (o que vem para socializar e despejar uns canecos, o que vem para se despachar e ir para casa mais cedo e os que vêm para dizer mal e espreitar gajas, ou seja, eu e mais uns quantos palhaços).

Uma tristeza que, nos tempos que correm, ninguém reme contra a maré. Aquela máxima que a adversidade aguça o engenho, neste caso simplesmente não se aplica. Não há um lampejo de criatividade. Um trolha trovador que cante uns piropos de cima de um andaime (e não era assim tão difícil, andaimes havia muitos e devotos da piroseira também). Ensaios ao corte em mosaicos cerâmicos efectuados com crânios grisalhos (admito que certas peneiras me irritam solenemente). Concursos de design para torneiras a realizar entre os visitantes (aposto que 90 % das obras primas eram piretes). Piscinas com modelos em bikini na bordinha (minto, estas estavam lá). Capacetes de obra em forma de painéis solares/outdoors, que por acumulação de energia exibam fotos de gajas nuas em slide. Betoneiras/sanitas para o desenvolvimento de argamassas de fibras orgânicas recicladas. Tradutores de bolso electrónicos, com conversões múltiplas para os dialectos ucraniano, moldavo, crioulo, brasileiro, palopiano, vernáculo de obra e português. Sistemas de domótica incorporados com interfaces para bimbys, aptos a elaborar refeições sem necessidade de ingredientes (agradeço a ausência específica desta simpatia, senão lá estava eu condenado a servir jantares em casa). Divisórias com barreiras acústicas automatizadas, com activação sonora despoletada por orgasmos sonoros ou ranger de camas. E por aí fora.

Os únicos que salvam a honra do convento são mesmo os espaços da Zon, que se mantêm fieis aos propósitos da surpresa e da inovação. Porque nunca se percebe o que estão lá a fazer. E porque este ano, aquelas meninas embrulhadas em vácuo, deixaram os intelectos de vocação curiosa a salivar em excesso.

É por tudo isto que sinto uma inveja sincera, sempre que vejo os sorrisos dos gigantes da NBA a acompanharem o "I love this game".

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