sexta-feira, 3 de abril de 2009

Na falta de sentido de humor...

Por incapacidade inata, não sou capaz de assistir a reality shows. Novelas da TVI. Revistas cor de rosa. E todo o tipo de atentados à inteligência, que recorram à submissão ao ridículo para promoção de uma estupidez maior. Mesmo nos filmes, no momento em que a personagem vai ser desprezada ou expor-se à zombaria alheia, instintivamente mudo de canal. Não sei se tem a ver com a minha própria dificuldade em lidar com a rejeição, ou do transtorno que me causa ter pena de alguém.

Dou comigo a pensar nisto (o meu cérebro consegue ser profundamente ignóbil), uma semana após o meu avô se ter estatelado em casa. Não se lembra de nada. Alguém registou que doou uma quantidade significativa de sangue ao piso da sala (fruto de uma forte pancada na cabeça na queda). Recuperou a consciência, chamou sozinho o 112, desceu à entrada do prédio e aguardou pela ambulância. Não consegui deixar de me sentir orgulhoso. Com 91 anos em cima, é obra! Não que tenha a sua postura de vida como modelo a seguir, apesar de admitir o muito que alcançou, escalando a pulso. De qualquer forma, continuo a adiar sucessivamente a visita, cada vez mais tardia. "O avô está muito apático. Fala pouco e já nem te enfrenta com o olhar." Estou entalado entre a recordação da morte lenta da minha avó, contudo rápida demais para a visita que não fiz e a pena que não quero sentir por quem sei que não a merece (e orgulhosamente não a quer merecer).

Se isto desaparecer é porque mudei de canal. Redundei e tive pena de mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário