sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cantar Português IV



que Voz!!

Jordânia

"Boas desde a Dinossaurolândia. Já nos despenhámos sobre Amã. Os velhinhos este ano estão ainda mais idosos e até partilham comigo os problemas de próstata, reumático e falta de memória...para ajudar, um avôzinho entornou-me um balde de café pelas pernas abaixo...isto promete!!!Beijos."

Esta foi a sms tranquilizadora que enviei para casa após o inicio de umas merecidas férias. Infelizmente ou não, não tenho coragem para saciar a curiosidade de visitar certos pontos do globo a solo, por isso repeti este ano a inscrição no grupo da paróquia da terrinha. Depois de São Petersburgo e Moscovo, Jordânia. Novamente, entre os mais novos do grupo por larga margem e rodeado por 19 almas com variadíssimas mazelas. Além das mencionadas acima, passadas algumas jornadas, juntaram-se artroses, entorses várias, diarreias originadas pelas mais variadas causas, paragens de digestão e desidratações. Tão contagiante era a corrente, que até um certo idiota se queixava das feridas nos calcanhares provocadas pelas minhas sandálias novas. Se a isto somarmos, um conjunto de aventuras hilariantes em que se acotovelam o derrube da vedação de um bar do freeshop do aeroporto de Istambul pela mais experiente das turistas, o quase desfalecimento numa casa de banho nojenta de um café após um ataque de diarreia fulminante, uma urinadela urgente por trás de um muro de gabiões de aparecimento milagroso, ou um taxista de dentuça proeminente com a buzina em êxtase por transportar três quinquagenárias pelo centro de Amã em pleno Ramadão, francamente não sei se zombe ou se arquive uma recordação carinhosa. Resumindo, acabei por ver o que queria, retemperei energias, restabeleci ânimos e ainda me diverti bem além do expectável.

Na companhia de um padre com um apetite colossal, de três criaturas que me interrompiam repetidamente a sesta para depositarem as particularidades mais superficiais das suas vidas nos meus ouvidos, da Dona G. que conseguia avaliar a minha paciência em todas as refeições ao repetir pelo menos 17 vezes a mesma pergunta (felizmente as perguntas variavam de dia para dia), da "barda" do grupo que conseguia partilhar as melodias mais improváveis nos momentos mais imprevistos e de outras personagens mais recatadas. Isto sob supervisão atenta de uma guia que teimava em cansar-me a vista ao repetir constantes correrias para satisfazer as necessidades logísticas de cirurgia tão minuciosa. Quase perfeito. Só faltou uma amazona em rota turística que partilhasse comigo os ocasos áridos do deserto e banhos de piscina nocturnos ricos em cloro. De qualquer forma, reaprendi que nos momentos genuínos qualquer companhia é inesperada.

Excluindo peripécias, retive da Jordânia quatro pontos de visita obrigatória: Jerash (e as suas ruínas romanas), Petra (apesar da fama, o final do desfiladeiro é sempre um momento deslumbrante), Wadi Rum (a brutalidade intocável do deserto) e Aqaba (desta não sobram fotos, mas depois de uma semana a idealizar contornos apetecíveis escondidos sob cortinados pretos ambulantes, as vistas gratuitas de bikinis e corpos mais ou menos bronzeados no Mar Vermelho inebriaram o fotógrafo).

P.S. A quarta foto retirada no interior de igreja nas margens do Jordão pode, para certas mentes carregadas de pecado, permitir o vislumbre de heresias abdominais.












quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Voltei

Antes de mais, urge justificar-me a quem quer que desperdice tempo a bater nesta porta. Uma ausência de 54 dias mereceria um regresso comemorativo. Mas a verdade é que fui unicamente comprar tabaco. E entre um cigarro e outro (andava a reduzir para um prego diário), a descoberta que Jacó tinha dopado os restantes inquilinos e detinha o controlo das rédeas da carroça. Irritante, depois de um ano tão sereno, chegar ao Verão e observar cargas de trabalho apreciáveis a despenharem-se sobre a minha secretária. Quando os horários esticam, certos prazeres assumem papeis secundários e outros são mesmo desprezados. E a existência deste blog é unicamente isso, um prazer narcisista de escrever as maiores palermices e de ainda me divertir a relê-las. Para além disso, quando o tempo escasseia, os acordares são abruptos, os adormeceres desejados e o resto do tempo estupidamente desperdiçado (planeia-se em stress e sonha-se com pormenores catastróficos que comprometem o planeamento), sobra muito pouco de interessante para partilhar. E como eu sou de entusiasmos, apaixono-me, vivo até corromper o ultimo segredo por desvendar e canso-me (não que isto marque muitos pontos a meu favor, mas este blog nunca foi uma veículo de autopromoção, antes pelo contrário), falando curto e grosso, caguei nisto. Fui aparecendo para visitar os pontos de interesse memorizados neste blog, porque há sempre alguém com detalhes valiosos para publicar e apanhei boleia da inércia. A vantagem de ter uma desprezível falta de carácter para com as nossas paixões é que um tipo pode sempre alugar o rosto a uma valente cara de pau e regressar como se nada se tivesse passado. É o que se passa aqui. Sem promessas. Sem compromissos. E com a traição a pairar no ar. Voltei.

sábado, 4 de julho de 2009

Cantar Português III



"Que a dependência é uma besta
que dá cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dias de vergonha

Miragem resultante de 48 horas sem pregar olho, por ataques de tosse constantes:

A águia Vitória faz birra e entra em greve, por suspeitar que com a contratação de um Falcão, a sua titularidade está ameaçada. Alguém descobre nos estatutos, que caso a Vitória se indisponibilize a efectuar o seu voo picado, terá de ser o presidente do glorioso a voluntariar-se para essa façanha. Ressalva-se contudo que aquele tem direito a saltar munido de paraquedas, desde que devidamente autorizado pelo Presidente da Diarreia Cerebral. Manuel Vilarinho, náufrago entre 2 garrafões de tinto e o habitual vomitar de disparates, nomeia Bruno Carvalho paraquedas de Luis Filipe Vieira. LFV consegue antecipar a hora do mergulho para um minuto após a nomeação anterior, por forma a impedir que o seu mergulho tenha espectadores. Bruno Carvalho, com uma velocidade assombrosa, ainda consegue chegar a tempo, encavalita-se em LFV e promove o voo picado. Recrutado talhante da zona para cortar as orelhas de LFV, prevenindo o efeito de vela. Despedaça-se o par maravilha com grande pompa, junto dos bifes da Vitória. Advogado próximo de Bruno Carvalho impugna a realização do voo, porque sim. Manuel Vilarinho não delibera porque se acabou o vinho. Jornal "A Bola" confirma: "Espanhóis que querem tomar de assalto o Benfica reivindicam autoria do pseudoatentado" (um aparte, os vários benfiquistas com princípios, que ali escreveram desde sempre, devem estar a rodopiar em espiral nas respectivas campas, ao comprovarem o servilismo degradante em que esse jornal se tornou). António Pedro Vasconcelos consegue prémio internacional para melhor argumento adaptado pelo seu espectáculo de marionetas "Orelhas, Garotos e Providências Cautelares". Lamento, mas não consigo desenrascar um final feliz para uma tragicomédia destas.

Desamparem o espaço, palermas!!! Arrebitem os indicadores na carola e toca de ir mugir para a Assembleia da Republica...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Gripe mesmo suína

Não, não estive de férias. Nem hospitalizado. Nem preso. Este blog carrega apenas alguns problemas existenciais de que vos falarei nos próximos dias (este "próximos" não é temporalmente vinculativo) que têm retardado o avolumar de posts. Para ajudar, ando com umas reincidências gripais de efeitos nefastos. Dirão vocês: "Este flor de estufa manda um espirro depois de almoço, saca uns macacos com molho e acaba-se-lhe o mundo!!! Temos menina!!!" Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas as minhas constipações deixam sempre histórias para contar.

Qualquer infeliz que já tenha sentido os efeitos do síndrome vertiginoso sabe que um gajo, após os episódios de desequilíbrio, parece um tolinho a fiscalizar quem se esconde por detrás da porta ou debaixo da cama. Ou melhor, desconfia de si mesmo e de todas as leis da física e em casos extremos começa mesmo a rezar à Samantha Fox, a deusa do amortecimento de todas as quedas em altura, desde a Antiguidade. No meu caso, como tenho em vigor o meu contrato vitalício de arrendamento com a minha amiga sinusite, consigo acumular uma quantidade invulgar de gosma que me vai habitando as obscuridades subcutâneas do rosto e arredores (nem com a beleza interior me safo). Ora, quando este muco me chega aos ouvidos, temos festa. O chão foge-me dos pés e o resto do mundo, para ajudar, alterna movimentos sísmicos com rotações de cinismo apurado e deixa-me literalmente na merda. Esta semana já se contam duas aventuras. A primeira numa reunião com uma cliente e respectiva decoradora, em que consegui miraculosamente ajoelhar-me numa perna, antes de cair redondo. Com mais ninguém por perto, a alternativa seria apoiar-me nas duas personagens que estavam por perto. Ora, como a visão das mamas da decoradora teimava em encavalitar-se na minha vista e interromper-me teimosamente o raciocínio, eu sabia que ao mínimo sinal de queda, o meu inconsciente ia acabar por trair-me. Por isso toca de ajoelhar, não fosse alguém questionar a veracidade dos papéis da causa e do efeito. Podia ter tentado atirar-me em voo e salivar ligeiramente, mas seria uma representação muito menos nobre. Da segunda vez, teve muito menos impacto. No regresso ao escritório após o almoço, encontrei um posto de transformação de electricidade que não via desde a ida para o mesmo e decidimos abraçar-nos efusivamente. De ambas as vezes, os aplausos não fizeram jus à intensidade da interpretação.

Até aqui, tudo bem, as consequências alheias são mínimas. O problema é o flashback da semana passada. Porque estes fenómenos têm o cuidado de emitir avisos prévios, com alguns dias de antecedência, para um gajo começar a sair de casa mais mal vestido, não vá ter de aterrar em locais menos próprios. Vamos retroceder ainda mais um pouco. Aqui há uns anos, fui aconselhado a fazer fisioterapia específica para este tipo de casos, a qual incrivelmente (eu sou mesmo uma criatura original, caramba), não se aplicava ao meu caso particular. Porque o meu desequilíbrio é de ambos os lados e desaconselha exercícios compensatórios, porque são uma perda de tempo. De ambos os lados e da mioleira também, atrevo-me eu a acrescentar, até porque os meus pais são primos direitos e desde pequenino me avisaram que o meu atraso mental era apenas uma questão de tempo, passe a redundância cronológica (talvez esta passagem não seja totalmente verdade, mas no mínimo eu já sonhei com isto...e sim, os meus pais são mesmo primos direitos). Portanto, ao menos assim, estraga-se só um espécime. Onde é que eu ia? Pois...fisioterapia...num dos exercícios, encorajam um tipo a marchar sem sair do mesmo sitio com os olhos fechados, para lhe poderem mostrar que nos períodos de crise, sem recorrer à visão, "tá fodido de todo". Começamos a marchar virados para Meca e, de repente, somos a personagem principal da Roda da Sorte. Back to the future. Desde que comecei a apanhar umas obras para os lados de Cascais, vou regularmente almoçar a um restaurante de beira de estrada junto à saída da A5 para Bicesse / Manique (estes dados são pessoais, mas eu preciso de compensar o estardalhaço...fica ali no Pau Gordo). Gastronomia alentejana, à imagem do proprietário. Serviço quase familiar. Aliás, a personagem é muito parecida com a minha mãe. Não fisicamente, felizmente para os dois, mas desde que saí de casa dos meus pais (e já lá vão uns quantos anos), nunca mais ninguém me tinha chateado insistentemente de cada vez que deixo comida no prato. Porque é de facto um sacrilégio tal desperdício. Os melhores pezinhos de coentrada que já comi na vida. Umas migas com entrecosto de chorar por mais. Uma puta duma morcela que nos faz sentir um lilliputiano a comer nas terras do Gulliver. Uma sopa de cação que me levava ao altar. Fora os pratos de todos os dias. O cerne disto tudo é que a semana passada, cheguei ao local do repasto aflitinho para verter águas. Depositei os pertences na mesa e fui directo à casinha. Desconheço quais os tiques mais comuns nestes momentos de alívio mais apertados, mas eu tenho tendência para desentorpecer os músculos das pernas e dar uns saltinhos esteticamente ridículos. Hoje em dia, com o louvável economizar de energia e detectores de movimento pouco sensíveis, um gajo, à mínima distracção, está a mijar às escuras. Agora, já não é difícil adivinhar!!! Mau prenúncio os saltinhos transformarem-se em chapinhadelas. Catastrófico, o aceno com a mão que sustenta a rega para tentar activar a luz. Terrível, a confirmação de que estados sobressaltados não casam com pontarias precisas. E um gajo a tentar rodar, agora já às claras, para compensar a rotação anterior exagera no regresso e elimina o último espaço incólume. Tudo mijado. Autoclismo, tampo, porta-rolos e respectivo papel, sanita (interior e exterior), paredes e piso, ninguém se pode queixar de desigualdade de tratamento. E como é que um gajo se safa desta? Pois. O final é demasiado constrangedor para revelar. Mas decidi publicitar a casa para expiar a vergonha. Vale a pena a visita. Se for lá em breve, por higiene e segurança, urine antes de ir (nada mais falso, já lá voltei e estava tudo imaculado).

Vocês, que riem contidamente da desgraça alheia, sorriem superiormente da palhaçada ou desprezam a insignificância do texto, receiem a fertilidade. Ainda podem ter um filho assim. E ele até pode querer partilhar narrativas destas convosco.

domingo, 14 de junho de 2009

Cantar Português II



Enquanto usufruis dos prazeres de uma praia deserta, as ondas entregam-te uma "message in a bottle". Preferes a riqueza da mensagem dentro de uma vasilha artesanal, ou uma missiva superficial dentro de uma garrafa decorativa?...Eu também.

Lobby familiar, precisa-se

Alguém sabe como chegar à fala com a família do LFV? Apesar de sinistro, parece que são eles que detêm a derradeira oportunidade do Benfica conquistar algum título durante o próximo mandato...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eu nem podia mesmo ir de férias nessa semana

Desde o início deste blog, a política foi tema propositadamente escorraçado. Nada de abordar assuntos que fedem. Contudo, este Domingo, vou estragar o fim de semana para um blind date com uma urna. Para não desperdiçar um voto. Mas, sobretudo, porque é de combater o argumento mais popular dos derrotados de domingo à noite. "Os resultados ficaram aquém do esperado, porque esta data era muito propícia à abstenção". E eles vão ser muitos (os derrotados e os que se abstêm). Por tudo isto, vou justificar o meu voto OMO.

Em primeiro lugar, para não ofender a mãe de ninguém, considero todo o politico um grandessíssimo canalha. Acho, aliás, que nas J's, um gajo a quem se vislumbre um mínimo de honestidade e espírito de missão, é imediatamente acompanhado até à porta da saída e agraciado com um valente chuto na peida, para não ter sequer a tentação de voltar. Em segundo lugar, numa altura de crise reclamada por unanimidade, as declarações da nossa campanha a todos os níveis e cores partidárias parecem proferidas por idiotas chapados. Perante o consenso, resta-me concluir que são realmente proferidas por idiotas chapados. E rara é aquela que adianta algo sobre alguma das nossas preocupações. Em terceiro lugar, com a ameaça do desemprego a pairar sobre a cabeça de inúmeras famílias, já depois de ter rachado o crânio de demasiadas outras, é invulgarmente criminoso, certas criaturas presentearem-se com indemnizações, reformas e remunerações chorudas, sobretudo porque baseadas em compadrios e compensações imaculadas, acordadas no exercício de cargos imunes a qualquer suspeita, para não mexerem um cu! Finalmente, e por último (que este post não se quer extenso), porque ninguém tem a coragem de denunciar comprovadamente estas provocações e condenar decentemente estes abutres. Desculpem ter substituído a linguagem excessiva por termos cobardolas. Mas, neste blog, estou em casa e afinal parece que nem me estou a cagar para eventuais melindres.

Poderiam certas mentes sentir-se marginalizadas, porque as justificações concedidas encaixam sobretudo nas ceroulas dos partidos do bloco central. É uma verdade, mas parece-me legítimo desconfiar que, tal sucede simplesmente, porque os outros não conseguiram chegar a posições que lhes permitissem aproveitar tais relíquias. Acedo, por isso, a discriminar a fuga do meu voto a todos os quadrantes, sem chamar os bois pelos nomes, como é tão popular nos dias que correm:

  • Porque estão tão agarradinhos, que parecem Patinhas encerrados no cofre-forte. Com a diferença de que o pato fazia pela vida. E tinha justificações mais criativas.
  • Porque quem tem coragem e sabe estar, não escolhe a líder que escolheram. Foi a assunção de todas as derrotas por vir. Cambada de cobardes facínoras.
  • Porque a preservação de espécies em vias de extinção não é uma incumbência apropriada a todos os cenários.
  • Porque é palermice pensarmos que o rumo deste país pode ter como base um "one man show". Com todas as qualidades artisticas que ele até possa não ter.
  • Porque apesar de terem uma participação activa e trabalharem reconhecidamente mais que os restantes, não lhes reconheço amplitude política para conseguirem marcar posição de forma credível nas várias actividades sócio-económicas.
  • Porque dos figurantes não reza a história.

A emissão desta opinião é da inteira responsabilidade dum individuo que já votou, pelo menos por uma vez, em cada um dos primeiros quatro partidos políticos mencionados acima. Quem quiser que diga quem são. Eu não acuso ninguém, porque todos sabem que eu sei que vocês sabem que nem eu sei. Chamem-me louco, que até posso concordar. Mas, para mim, já não são as ideologias que justificam onde queremos chegar e qual o rumo a tomar. Uma pena, nós as pessoas, não estarmos à altura.

Fica prometido não voltar a este tema até ao final da Superliga do próximo ano.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Madredeus



A nossa essência carrega a herança de um idioma opulento. Ostentamo-la orgulhosos ou assumimos os fantasmas de um passado estéril?