quinta-feira, 25 de junho de 2009

Gripe mesmo suína

Não, não estive de férias. Nem hospitalizado. Nem preso. Este blog carrega apenas alguns problemas existenciais de que vos falarei nos próximos dias (este "próximos" não é temporalmente vinculativo) que têm retardado o avolumar de posts. Para ajudar, ando com umas reincidências gripais de efeitos nefastos. Dirão vocês: "Este flor de estufa manda um espirro depois de almoço, saca uns macacos com molho e acaba-se-lhe o mundo!!! Temos menina!!!" Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas as minhas constipações deixam sempre histórias para contar.

Qualquer infeliz que já tenha sentido os efeitos do síndrome vertiginoso sabe que um gajo, após os episódios de desequilíbrio, parece um tolinho a fiscalizar quem se esconde por detrás da porta ou debaixo da cama. Ou melhor, desconfia de si mesmo e de todas as leis da física e em casos extremos começa mesmo a rezar à Samantha Fox, a deusa do amortecimento de todas as quedas em altura, desde a Antiguidade. No meu caso, como tenho em vigor o meu contrato vitalício de arrendamento com a minha amiga sinusite, consigo acumular uma quantidade invulgar de gosma que me vai habitando as obscuridades subcutâneas do rosto e arredores (nem com a beleza interior me safo). Ora, quando este muco me chega aos ouvidos, temos festa. O chão foge-me dos pés e o resto do mundo, para ajudar, alterna movimentos sísmicos com rotações de cinismo apurado e deixa-me literalmente na merda. Esta semana já se contam duas aventuras. A primeira numa reunião com uma cliente e respectiva decoradora, em que consegui miraculosamente ajoelhar-me numa perna, antes de cair redondo. Com mais ninguém por perto, a alternativa seria apoiar-me nas duas personagens que estavam por perto. Ora, como a visão das mamas da decoradora teimava em encavalitar-se na minha vista e interromper-me teimosamente o raciocínio, eu sabia que ao mínimo sinal de queda, o meu inconsciente ia acabar por trair-me. Por isso toca de ajoelhar, não fosse alguém questionar a veracidade dos papéis da causa e do efeito. Podia ter tentado atirar-me em voo e salivar ligeiramente, mas seria uma representação muito menos nobre. Da segunda vez, teve muito menos impacto. No regresso ao escritório após o almoço, encontrei um posto de transformação de electricidade que não via desde a ida para o mesmo e decidimos abraçar-nos efusivamente. De ambas as vezes, os aplausos não fizeram jus à intensidade da interpretação.

Até aqui, tudo bem, as consequências alheias são mínimas. O problema é o flashback da semana passada. Porque estes fenómenos têm o cuidado de emitir avisos prévios, com alguns dias de antecedência, para um gajo começar a sair de casa mais mal vestido, não vá ter de aterrar em locais menos próprios. Vamos retroceder ainda mais um pouco. Aqui há uns anos, fui aconselhado a fazer fisioterapia específica para este tipo de casos, a qual incrivelmente (eu sou mesmo uma criatura original, caramba), não se aplicava ao meu caso particular. Porque o meu desequilíbrio é de ambos os lados e desaconselha exercícios compensatórios, porque são uma perda de tempo. De ambos os lados e da mioleira também, atrevo-me eu a acrescentar, até porque os meus pais são primos direitos e desde pequenino me avisaram que o meu atraso mental era apenas uma questão de tempo, passe a redundância cronológica (talvez esta passagem não seja totalmente verdade, mas no mínimo eu já sonhei com isto...e sim, os meus pais são mesmo primos direitos). Portanto, ao menos assim, estraga-se só um espécime. Onde é que eu ia? Pois...fisioterapia...num dos exercícios, encorajam um tipo a marchar sem sair do mesmo sitio com os olhos fechados, para lhe poderem mostrar que nos períodos de crise, sem recorrer à visão, "tá fodido de todo". Começamos a marchar virados para Meca e, de repente, somos a personagem principal da Roda da Sorte. Back to the future. Desde que comecei a apanhar umas obras para os lados de Cascais, vou regularmente almoçar a um restaurante de beira de estrada junto à saída da A5 para Bicesse / Manique (estes dados são pessoais, mas eu preciso de compensar o estardalhaço...fica ali no Pau Gordo). Gastronomia alentejana, à imagem do proprietário. Serviço quase familiar. Aliás, a personagem é muito parecida com a minha mãe. Não fisicamente, felizmente para os dois, mas desde que saí de casa dos meus pais (e já lá vão uns quantos anos), nunca mais ninguém me tinha chateado insistentemente de cada vez que deixo comida no prato. Porque é de facto um sacrilégio tal desperdício. Os melhores pezinhos de coentrada que já comi na vida. Umas migas com entrecosto de chorar por mais. Uma puta duma morcela que nos faz sentir um lilliputiano a comer nas terras do Gulliver. Uma sopa de cação que me levava ao altar. Fora os pratos de todos os dias. O cerne disto tudo é que a semana passada, cheguei ao local do repasto aflitinho para verter águas. Depositei os pertences na mesa e fui directo à casinha. Desconheço quais os tiques mais comuns nestes momentos de alívio mais apertados, mas eu tenho tendência para desentorpecer os músculos das pernas e dar uns saltinhos esteticamente ridículos. Hoje em dia, com o louvável economizar de energia e detectores de movimento pouco sensíveis, um gajo, à mínima distracção, está a mijar às escuras. Agora, já não é difícil adivinhar!!! Mau prenúncio os saltinhos transformarem-se em chapinhadelas. Catastrófico, o aceno com a mão que sustenta a rega para tentar activar a luz. Terrível, a confirmação de que estados sobressaltados não casam com pontarias precisas. E um gajo a tentar rodar, agora já às claras, para compensar a rotação anterior exagera no regresso e elimina o último espaço incólume. Tudo mijado. Autoclismo, tampo, porta-rolos e respectivo papel, sanita (interior e exterior), paredes e piso, ninguém se pode queixar de desigualdade de tratamento. E como é que um gajo se safa desta? Pois. O final é demasiado constrangedor para revelar. Mas decidi publicitar a casa para expiar a vergonha. Vale a pena a visita. Se for lá em breve, por higiene e segurança, urine antes de ir (nada mais falso, já lá voltei e estava tudo imaculado).

Vocês, que riem contidamente da desgraça alheia, sorriem superiormente da palhaçada ou desprezam a insignificância do texto, receiem a fertilidade. Ainda podem ter um filho assim. E ele até pode querer partilhar narrativas destas convosco.

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